Resumo
Os principais desafios para o organismo humano dos indivíduos que se deslocam para a Antártica é a manutenção da temperatura corporal interna e a defesa das extremidades corporais das lesões pelo frio. A utilização de roupas específicas para o frio é um comportamento termorregulatório para a garantia da integridade física, pois estas são capazes de gerar um microclima quente, devido às características isolantes. Contudo, o microclima quente proporcionado pelas roupas, associado à elevação da produção metabólica de calor durante a realização de atividades em campo na Antártica que dependem de esforço físico, resultam em elevação da temperatura interna e nas consequentes respostas fisiológicas ao calor que se repetidas, podem geral adaptações ao calor. Considerando o possível efeito do ambiente antártico sobre a termorregulação, o objetivo do estudo foi avaliar, em um grupo de pesquisadores brasileiros, se a realização de atividades de campo na Antártica com roupa isolantes na Antártica resulta em aclimatização ao calor e avaliar se esta resposta ocorreria conjuntamente com adaptações periféricas ao frio. A amostra deste estudo foi composta por sete voluntários (5 mulheres e 2 homens), que passaram por três situações experimentais: “Pré-Antártica”, realizada no Brasil 27 dias antes da viagem para início da expedição, “Antártica”, na qual foram coletados dados dentro do período de 32 dias de acampamento na Antártica, que ocorreram entre janeiro e março de 2018 e “Pós-Antártica”, realizada no Brasil 18 dias após a finalização do acampamento. Nas situações experimentais “Pré-Antártica” e “Pós-Antártica”, foram realizados os mesmos procedimentos experimentais, divididos em dois dias de coletas de dados, com 48h de intervalo entre estes. No primeiro dia experimental, foi realizada a avaliação das características físicas dos voluntários e um teste para a medida do consumo máximo de oxigênio (V̊O2MÁX.). No segundo dia de coletas de dados, foi realizado um exercício físico submáximo (60%Vmáx) em ambiente quente (31ºC e 60% URA) e a avaliação da tolerância da exposição da mão à água a 2º C. Na situação “Antártica”, foi avaliada a temperatura corporal interna ao longo de um dia típico de campo, e avaliação da tolerância da exposição da mão à água a 2° C. Após o retorno da expedição à Antártica, os voluntários apresentaram um aumento no tempo total de exercício durante o teste para avaliação do V̊O2MÁX; no entanto, não observamos diferença no V̊O2MÁX. Durante o exercício submáximo na situação “Pós-Antártica”, observamos aumento da taxa de sudorese local da testa e da quantidade de glândulas sudoríparas ativas na testa, bem como redução nas temperaturas da pele da testa e do peito. Em relação à tolerância da exposição da mão ao frio, os voluntários apresentaram redução da taxa de resfriamento e tendência ao aumento da tolerância à água a 2°C na situação “Antártica”, e não foram observadas diferenças entre as situações “Pré-” e “Pós-Antártica”. A permanência em um acampamento na Antártica, durante 32 dias, foi o suficiente para provocar respostas fisiológicas adaptativas duradouras ao calor, resultar em melhora do desempenho físico em consequência do esforço físico em campo e levar ao aumento da tolerância de uma região periférica (mão) ao frio, apesar dessa última não ter sido mantida após 18 dias do final da expedição.