Resumo

Esta tese dedica-se à construção de memórias acerca dos infames no bairro-balneário Cassino em meados do séc. XX, utilizando as práticas de divertimento como recorte analítico. Para tanto, foram mobilizados referenciais teórico-metodológicos advindos da história oral em que a produção das fontes constituiu-se de entrevistas com sete depoentes – dois famosos e cinco infames. Localizado na cidade do Rio Grande-RS, o Cassino foi inventado como um balneário planificado à moda europeia, sob a argumentação de ser um empreendimento destinado à sociabilidade balnear de famílias ricas e tradicionais da cidade e região. A proposição que conduz a escrita desta tese é a de desnaturalizar uma possível consolidação desse entendimento histórico pela suspeita da presença e circulação de uma gente não famosa que igualmente ocupou o local estabelecendo com ele vínculos de pertencimento. A tese está organizada em cinco capítulos. O conjunto dos dois primeiros é responsável tanto por localizar o solo conceitual em torno das noções de história, memória e tempo, quanto das questões metodológicas encaminhando a apresentação e discussão da história oral como a arte do encontro. Iniciando os capítulos das operações, em “Rostos de uma infâmia inventada” os infames aparecem na pesquisa através da oralidade de dois entrevistados “de sobrenome”, para que, assim, fosse possível falar dela. Na sequência, o capítulo “’A turma que ficava aqui é que sofria’: os infames e as histórias da rua de trás”, parte do rosto da infâmia desenhado na operação anterior para encontrar os cinco infames entrevistados – todos moradores do Cassino – e, com eles, produzir o registro de sua presença e circulação no bairro-balenário com um olhar especial às práticas de divertimento. O último capítulo, “Heterotopias de um bairro-balneário: o Cassino como um outro espaço”, sintetiza como as duas operações anteriores pensadas a partir da correlação entre memória e a noção de espaço no sentido foucaultiano levou a nomear o Cassino como um outro espaço de nosso tempo. Finalmente, produzir registros históricos sobre o Cassino num olhar a partir dos infames não está na ordem de trazer, enfim, a “essência exata da coisa” ou uma “identidade recolhida em sua origem”. Alcançar as grandes linhas da história e fixá-las com um sentido supra-histórico é, portanto, um trabalho inviável e sem propósito. Nem aquela história já contada sobre o Cassino tem a prerrogativa de deter esse selo, nem essa que estamos por contar o exige. O interesse é multiplicar os fios que atravessam a história do bairro-balneário tramando-os na produção de uma narrativa sustentada pela especificidade dos infames.

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