Resumo

O processo de formação de identidade de atletas tem início ainda nas categorias de base, durante a adolescência. Diferentemente de outros grupos sociais que desenvolvem habilidades profissionais e pessoais ao longo da existência, o atleta tem seu tempo dedicado a treinar e competir, ficando alienado de outras formas de socialização. O resultado dessa dedicação é a crise de identidade vivida no processo de transição de carreira que ocorre no auge da vida adulta, quando essas pessoas se veem obrigadas a iniciar uma nova carreira profissional, momento em que outras pessoas, da mesma faixa etária, caminham para a maturidade profissional. A profissionalização esportiva começou no Brasil ao longo da década de 1980. Esse movimento gerou profundas transformações não apenas no exercício da profissão de atleta, mas também na constituição da identidade desse profissional que tem uma trajetória produtiva curta e uma aposentadoria precoce, se comparada a outras profissões. Denominada transição de carreira a aposentadoria do atleta tem desdobramentos profundos na vida dessas pessoas acostumadas a ter visibilidade social, assédio público e reconhecimento por seus feitos, pouco comuns aos cidadãos médios. Se a profissionalização representa a possibilidade de uma carreira no esporte como em qualquer outra profissão é necessário considerar que em outras especialidades a aposentadoria ocorre por tempo de serviço, seguindo leis do trabalho que garantem rendimentos pelo sistema previdenciário, mas não no caso de atletas, uma vez que essa profissão não é reconhecida pelas leis brasileiras. O voleibol foi a primeira modalidade esportiva profissionalizada no país, servindo de exemplo a outras instituições. Entretanto, esse pioneirismo não se refletiu na preparação dos atletas para se retirar da vida competitiva. Em 2021, pela primeira vez a Confederação Brasileira de Voleibol preparou um programa de transição de carreira para atletas que competiram nos torneios profissionais de quadra e praia. O objetivo dessa pesquisa é analisar como se dá o processo de transição de carreira entre 20 atletas de voleibol e vôlei de praia e a construção da nova identidade após o distanciamento da vida competitiva. Essa será uma pesquisa quali-quanti que se utilizará do método biográfico, avaliação psicológica e de carreira, além de intervenções individuais e grupais. Espera-se com esse programa desenvolver um modelo de transição de carreira para atletas que vivem a profissionalização no Brasil.

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