Resumo
Esta pesquisa, fundamentada no Materialismo Histórico-Dialético (MHD), investigou as concepções de professores de Educação Física sobre o ensino da dança na Educação Física Escolar, analisando suas implicações na formação docente e na construção de uma consciência crítica entre estudantes. Articulando as perspectivas da Pedagogia Histórico-Crítica (PHC) e da Abordagem Crítico-Superadora (ACS), o estudo evidenciou as contradições de um sistema educacional marcado pela lógica neoliberal, que tende a reduzir a dança a uma prática despolitizada e adaptativa. A intervenção pedagógica realizada com estudantes do 5º ano demonstrou que, quando abordada em sua dimensão histórica e política, relacionando-a a questões culturais, identitárias e de luta de classes, a dança se torna um meio potente de reflexão e transformação. Metodologias como a “caixa de memórias” e a produção de histórias em quadrinhos permitiram aos estudantes ressignificar manifestações culturais, contrastando suas origens de resistência com a apropriação pela indústria cultural. A pesquisa reforça o papel da Educação Física como espaço de disputa política e aponta caminhos para práticas pedagógicas que transformem a dança em leitura crítica da realidade social. Os resultados revelaram que, embora os docentes participantes da pesquisa reconheçam a importância formativa da dança, sua prática ainda é limitada por uma formação inicial insuficiente e por políticas públicas educacionais como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que fragmentam o conhecimento em desenvolvimento de competências e habilidades. A análise entre a BNCC e as pedagogias críticas destacou um conflito de projetos: enquanto a primeira prioriza habilidades adaptativas ao mercado, a PHC e a ACS defendem uma educação emancipadora, que socialize o saber clássico e promova a crítica às estruturas de dominação e a tomada de consciência que leve às sucessivas transformações sociais que favoreçam a classe dos alunos da escola pública. Conclui-se que o ensino da dança na escola não colabora para o processo de transformação social, pois é superficial e descontextualizado. A dança não é neutra, pode tanto reforçar a alienação quanto impulsionar a resistência. Diante disso, tornase necessária uma abordagem crítica e não reprodutivista dessa prática, que só será viabilizada por meio de políticas públicas e, consequentemente, pela formação docente. Essa formação deve estar comprometida com pedagogias críticas, superando o tecnicismo e problematizando as relações entre educação, Educação Física e sociedade.