Resumo
Em meio a práticas pedagógicas bancárias, autoritárias e antidialógicas, há movimentos de resistência e luta. Entre eles estão, seguramente, as ações cotidianas de muitos/as educadores/as, mas, também, os modos de ser, estar e viver das crianças que, em/com seus corpos, denunciam as opressões da escola e subvertem a ordem imposta, anunciando com suas próprias questões, singularidades e alegrias que é possível e necessário promover uma educação outra. Reconhecendo o direito da criança em dizer sobre a escola, propomos a realização de uma pesquisa que está vinculada ao Programa de Mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional - ProEF - e formulamos os seguintes questionamentos: quais aspectos as crianças tematizam em suas narrativas sobre suas experiências na escola? Quais sentimentos emergem dessas experiências? De que modo as crianças e a professora-pesquisadora narram suas experiências em relação aos mecanismos de controle do corpo no cotidiano escolar? De que forma essas narrativas podem servir de orientações para pensarmos em outra escola? Apresenta-se como objetivo geral: investigar e analisar o que contam as crianças em suas narrativas acerca de suas experiências vividas na escola que frequentam e os sentidos a elas atribuídos. O estudo foi realizado em uma escola da rede pública de um município do estado de São Paulo, com a participação de 23 crianças entre 6 e 7 anos matriculadas no 1º ano dos anos iniciais do ensino fundamental. Quanto à metodologia, trata-se de um estudo de natureza qualitativa situado no âmbito da pesquisa (auto)biográfica em educação. As narrativas foram levantadas em rodas de conversa com as crianças a partir de um faz de conta, o qual um pequeno alienígena, o Verdinho, originário de um planeta sem escola, veio para aprender sobre essa. As rodas de conversa foram gravadas em áudio e vídeo e posteriormente transcritas. Além disso, um diário de campo foi utilizado. Para a sistematização das informações, procedeu-se à análise temática reflexiva (ATR), na qual identificamos quatro grandes núcleos temáticos: a função da escola na percepção das crianças; Mecanismos do capital; A procura pela boniteza e pela alegria, desdobrando-se em três subcategorias: espaços de brincar, de ser e estar; um baú de sonhos e utopia; Educação Física Escolar: Presente! e Contribuições das crianças para (re)pensar a escola: sonhos possíveis. Como recurso educacional, as crianças participaram da elaboração de um documentário, no qual narraram suas experiências com os/as amigos/as alienígenas e expressaram sua perspectiva quanto à escola dos sonhos. As crianças, com suas sutilezas, contradições e possibilidades, nos alertam: é tempo de perceber a escola com todos os sentidos. Contudo, vislumbramos a efetivação de uma Educação como prática da liberdade que promova uma educação emancipatória, libertadora e com alegria, sensível às singularidades das infâncias, do brincar criativo, inventivo e autoral. Conscientes, e esperançosos/as, de que isso só será possível por meio de um movimento crítico de resistência contra à educação bancária.