A Escolinha de Futebol: Sonho ou Armadilha para Abusadores?
Integra
A cada denúncia como a recente prisão no Paraná por abuso sexual infantil em escolinha de futebol – com reincidência e novas vítimas –, fica claro: o que deveria ser porta de entrada para o desenvolvimento e o sonho esportivo vira, para muitas crianças, um pesadelo de trauma e perda de confiança.
No esporte, especialmente no futebol de base, a integridade não é "burocracia extra": é a linha de defesa essencial contra abusos e assédios. Treinadores e monitores, vistos como heróis, muitas vezes se aproximam usando a paixão pelo jogo como isca – isolando vítimas com pretextos de "treino especial" ou "conversa reservada", explorando o poder que exercem sobre rotinas, sonhos e famílias desavisadas.
O padrão é alarmante: falta de checagem de antecedentes, protocolos de denúncia ineficazes, ausência de supervisão em vestiários ou viagens, e um silêncio imposto por chantagens emocionais. Quando reincidência acontece no mesmo ambiente, o sistema falhou – e quem paga é a criança, cujo talento e autoestima são destruídos antes de florescerem.
Para profissionais de RH, compliance, educação e gestão esportiva, isso é um chamado à ação. Escolinhas e clubes precisam adotar, urgentemente:
(i) Tolerância zero: Regras claras de conduta, com afastamento imediato de suspeitos e punições reais.
(ii) Seleção rigorosa: Verificação criminal e ética contínua para todos que lidam com menores.
(iii) Proteção ativa: Proibições de isolamento, presença obrigatória de múltiplos adultos e educação para crianças e pais sobre o que é abuso (direito de dizer "não", canais seguros de denúncia).
(iv) Canais independentes: Denúncias externas, com acompanhamento e integração a órgãos como Conselho Tutelar e MP.
(v) Responsabilização institucional: Dirigentes respondem por omissões, promovendo uma cultura de transparência.
O futebol forma caráter, mobiliza comunidades e oferece pertencimento – mas só se for um ambiente seguro. Como líderes e profissionais, não podemos aceitar que "aqui isso não acontece". Precisamos fiscalizar, educar e proteger, transformando o esporte em verdadeiro agente de integridade.