Resumo
As organizações esportivas ligadas ao sistema olímpico têm sido pressionadas por diversos stakeholders a apresentarem gestões transparentes e que tragam resultados positivos tanto no quesito esportivo, como também gerencial. Tal configuração impulsiona a necessidade de mudanças nessas entidades, a fim de que as mesmas se aproximem da lógica de gestão de empresas de carácter comercial e corporativo. Tal lógica tem sido endereçada na literatura acadêmica enquanto uma modernização da estrutura organizacional das organizações esportivas. Um dos fatores que tem motivado esse processo no ambiente esportivo, é a constância com que as entidades de gestão do esporte em diferentes países vêm sendo vinculados a casos de má gestão e corrupção. Essa conjuntura fez com que estas entidades fossem pressionadas pela sociedade, mídia, patrocinadores, governo federal e demais stakeholders a responderam de forma a apresentarem melhores práticas de gestão e governança. No caso do Brasil, as confederações olímpicas foram protagonistas nas últimas duas décadas de escândalos envolvendo esquemas de corrupção, má gestão, doping e casos de abuso contra atletas, em diversas modalidades. A partir de tais constatações, o objetivo central da presente tese foi o de propor um modelo de análise do processo de modernização em organizações esportivas, para então avaliar o processo de modernização destas entidades. Dessa forma, o trabalho contou com a realização de quatro etapas específicas, que objetivaram responder tal objetivo. Adotou-se no trabalho uma abordagem metodológica mista (composta por etapas quantitativas e qualitativas de analise). Na primeira etapa deste trabalho foram apresentados conceitos e teorias atrelados ao processo de modernização em organizações esportivas, os quais foram debatidos a fim de se chegar a proposta de um conceito de modernização em organizações esportivas, a ser adotado como fio condutor do debate aqui proposto. Na etapa subsequente (etapa II) realizou-se a construção e validação do instrumento de análise do processo de modernização das confederações olímpicas brasileiras. Os resultados dessa etapa mostraram que o instrumento possuí evidências de Validade de Conteúdo satisfatórias, sendo um instrumento acurado a fim de se conhecer o grau de modernização de organizações esportivas. A terceira etapa foi realizada a partir da aplicação desse instrumento, nas 35 confederações olímpicas brasileiras, através de uma pesquisa documental. Os resultados demonstram que tais entidades apresentam indícios moderados de modernização, sendo que os principais propulsores desse processo no país são o governo federal (por meio de leis e normativas) e o próprio Comitê Olímpico do Brasil. Três confederações se destacaram positivamente quanto aos resultados apresentados, foram elas Confederação Brasileira de Tênis de Mesa, de Vela e de Rugby. Outras duas, tiveram resultados negativos expressivos, sendo elas a Confederação Brasileira de Futebol e de Ginastica. No contexto brasileiro, aquelas entidades esportivas que apresentaram altos índices de modernização, apresentaram também melhores índices de governança. Uma conclusão relevante, proveniente da análise aqui proposta é a de que os indicadores que apresentaram as maiores médias foram aqueles que são requeridos pela legislação esportiva brasileira, ou então pelo programa de Gestão Ética e Transparência do Comitê Olímpico do Brasil. Por fim, pontuou-se os possíveis vieses que um processo de modernização impulsionado por agentes externos, que detém o status de principais financiadores destas entidades, podem gerar na autonomia das mesas. A etapa quatro apresentou uma proposta de modelo prático para a facilitação do processo de modernização de organizações esportivas no Brasil, desenvolvida a partir das etapas anteriores, em conjunto com um projeto piloto aplicado a clubes de Rugby da região sul do país. Salienta-se que a presente pesquisa apresenta limitações quanto ao carácter documental de suas análises, não sendo possível fazer inferências sobre demais fatores que podem afetar o processo de modernização destas entidades (como por exemplo a qualificação de gestores que atuam nestas entidades, ou então a atuação dos profissionais ligados a ela). Recomenda-se que novos estudos busquem analisar longitudinalmente os efeitos do processo de modernização nas entidades esportivas brasileiras, bem como avaliem o grau em que as mudanças geradas por eles são de fato efetivados na gestão destas entidades.