Resumo

O objetivo deste trabalho é apresentar dados de estudos e coletas em campo sobre as lutas agarradas corporais conhecidas como ikindene, piãguá e marajoara. O enfoque da pesquisa envolve o desenvolvimento da psicologia do etnoesporte (Fassheber, 2006; Kylasov, 2012) e dos jogos e esportes tradicionais (JETs), em estágio pós-doutoral na USP, como diálogo entre a antropologia e a psicologia das práticas esportivas e corporais dos povos indígenas e comunidades tradicionais. Metodologia qualitativa, bibliográfica, etnográfica e diário de campo. A primeira modalidade, o ikindene hekugu, é praticada por indígenas do Território indígena do Alto Xingu, localizado no Estado do Mato Grosso, porção sul da Amazônia brasileira. Há pouco material sobre esse modo de lutar-ritualizar, sendo mais recente a tese doutoral de Carlos Eduardo Costa (2013) e a dissertação de mestrado de Leandro Paiva (2021), das quais destaco impressões dos seus aspectos etnográficos e etnoarqueológicos, relacionado com os mitos, os ritos, a pessoa-comunal e o lúdico desta modalidade luta-luto. Em segundo lugar, a luta corporal do piãguá dos indígenas Maraguá do Estado do Amazonas , totalmente desconhecida pelo público leigo e acadêmico, até então. A dissertação de mestrado de Núbia Lira Cintrão (2012), sobre a farinhada em território indígena (TI) Maraguá é um raro trabalho que faz menção à manifestação cultural da luta piãguá. Desconhecida mesmo entre estudiosos das lutas corporais em ciências do esporte e educação física, muito menos citada como luta indígena na Base Nacional Comum Curricular, como é o caso das duas outras modalidades aqui em estudo. Ressalta-se a literatura escrita pelo escritor maraguá/saterê mawé Yaguarê Yamã, em especial o seu livro, dentre vários, entitulado Maraguápéyára (2014) no qual há uma breve descrição da luta chamada de piãguá, e toda sua função ancestral de ritos de poder, que foi modificada até sua versão contemporânea, reduzida ao ritual-lazer. Em terceiro, e com coleta de dados avançada, com indas e vindas aos territórios remotos do arquipélago do Marajó, com o estudo das primeiras obras, como a pioneira em José Wildemar Paiva de Assis (1997) até as comunicações recentes, e crescentes sobre a luta marajoara. Assim, apresento dados sobre a agarrada/luta marajoara, com mais de 200 anos, que recentemente se institucionaliza como esporte de rendimento e esporte escolar na educação física escolar. Destas leituras, estudos e coletas iniciais eu comunico algumas análises, interpretações e reflexões sobre modalidades de lutas agarradas brasileiras pouco conhecidas, e como parto também delas na construção de uma antropo-psicologia social do etnoesporte, dos jogos tradicionais e das práticas esportivas e corporais dos povos e comunidades indígenas e tradicionais.

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