As lutas como possibilidades de lazer

Parte de Lazer, Práticas Sociais e Mediação Cultural . páginas 164 - 175

Resumo

A articulação dos temas lutas e lazer como objetos de discussão e merecedores de espaço em uma obra sobre o lazer mostra-se oportuna, haja vista que ambos receberam (e por vezes ainda recebem) tratamentos pejorativos por parte de autoridades políticas, refletindo sobremaneira na percepção da população a respeito desses conteúdos e influenciando nas decisões de ocupação do tempo social. No que se refere ao lazer, por vezes o que predominou no imaginário de parte da sociedade – e não raramente ainda predomina – é que o que dignifica a humanidade não é o lazer, mas sim o trabalho, pois seria nesse tempo social produtivo que o sujeito demonstraria suas virtudes. Se o trabalho é o que dignifica o homem, por oposição o uso do tempo disponível com experiências de lazer seria perdição, “coisa de vagabundo” e momento em que prospera o profano. Seria o lazer então um tempo de preguiça, improdutivo, desperdiçado, perdido. Por tratar-se de um tempo perdido, logo traria prejuízos ao desenvolvimento de uma sociedade produtiva. Compreensões como essas se encontram fundamentadas em um modelo de sociedade pretendida, que no Brasil foi delineada com base na percepção médica higienista do início no século xx, que tinha como projeto o controle corporal visando a um indivíduo contido, disciplinado e civilizado. Para lograr êxito nesse projeto, ações de lazer eram tratadas como vadiagem e relacionadas à delinquência, assumidas como criminalidade (Marcassa, 2002).