Atletismo em Tóquio 2020: a Força dos Migrantes

Parte de Anais do Fórum de Estudos Olímpicos 2021 e III Simpósio Latino-americano Pierre de Coubertin . páginas 146

Resumo

O s Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 ficaram marcados pela visibilidade dada a vários fatores sociais que permeiam a competição. Um dos pontos que ficou em evidência foi a presença de migrantes internacionais. Pela segunda vez, houve uma delegação de refugiados e, além disso, houve um grande número de atletas naturalizados e/ou plurinacionais. Dentre os estudos que relacionam migração e esporte é possível destacarmos os trabalhos de Maguire (2007), Jansen (2018) e Almeida (2021). Ao analisar a trajetória de vida dos migrantes esportivos há conexões, mas também singularidades, sendo este um vasto campo para pesquisas. Essa conexão fica evidente ao analisarmos os medalhistas do atletismo. Somente entre os medalhistas, havia trinta atletas naturalizados e/ou com ancestrais de países diferentes dos quais eles representavam. Uma análise sobre os medalhistas olímpicos do atletismo em Tóquio aponta para casos como o de Marcell Jacobs, atleta com ancestrais italianos que nasceu nos Estados Unidos e foi o vencedor dos 100 metros rasos. Por questões familiares, ele representou a Itália, mas, como os Estados Unidos adotam o jus solis como critério de concessão de nacionalidade, ele também poderia ter optado por representar o país de nascimento. A existência de atletas binacionais, e a exigência de que eles escolham apenas uma nacionalidade para competir é um ponto de debate abordado por Nicolau (2017). Na prova do salto triplo, Pedro Pichardo representou Portugal, mesmo tendo nascido em Cuba. No caso dele, a opção por Portugal ocorreu após ele desertar de Cuba, em 2017, e se estabelecer na Europa. À época da deserção, Pichardo já era vice-campeão mundial e tido como um atleta que poderia ter grandes resultados internacionais. As questões migratórias também ficam evidentes ao se olhar para o pódio da maratona. O queniano Eliud Kipchoge foi o medalhista de ouro. A prata ficou com Abdi Nageeye que representou a Holanda e o bronze com Bashir Abdi, que competiu pela Bélgica. Todavia, Nageeye e Abdi são nascidos na Somália e fugiram do país devido à Guerra Civil. Muito além das questões comerciais e de naturalizações instrumentais, o estudo das trajetórias dos migrantes internacionais que obtiveram medalhas nas provas de atletismo nos Jogos Olímpicos de Tóquio mostra que o esporte é um campo social amplo e que não apenas dialoga, mas coloca em evidência questões complexas, como os diferentes papéis desempenhados pelos migrantes na sociedade.