Autorrelato da Capacidade de Subir Dois Lances de Escada na Estratificação do Risco Cardíaco Perioperatório: Uma Análise Crítica sobre sua Eficácia como Avaliação Funcional
Por Gabriela Chaves Lucas (Autor), Regina Brena de Lima Costa (Autor), Soraya Anita Mendes de Sá (Autor), José Manuel Vilaça-Alves (Autor).
Em XV Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde - CBAFS
Resumo
Você é capaz de subir dois lances de escada?" Essa pergunta simples é, há 15 anos, a pergunta-chave para avaliar a capacidade funcional (CF) dentro do algoritmo de risco cardíaco perioperatório (RCP) de diferentes entidades médicas, como a European Society of Cardiology e a Sociedade Brasileira de Cardiologia. Em tese, subir dois lances de escada representa um esforço de 4 METs (Metabolic Equivalent of Task), valor de corte para baixo RCP. O período perioperatório engloba as fases pré, intra e pós-operatória e exige uma rigorosa estratificação do risco cardíaco (ERC), buscando otimizar tomadas de decisão clínicas.Apesar de persistir há anos nas diretrizes de RCP, o valor preditivo dessa abordagem simplificada vem sendo questionado. Esta análise crítica, baseada em revisão sistemática em andamento (PROSPERO CRD42024557969) de 13 estudos observacionais, investigou a eficácia do autorrelato da capacidade de subir escadas (ACSE) como preditor de RCP. O ACSE associou-se a RCP aumentado, mas sua adição, de forma dicotomizada (<4 METs vs. ≥4 METs), a modelos preditivos não melhorou significativamente a capacidade discriminatória (AUC -ROC). Além disso, variáveis clínicas rotineiras (risco cirúrgico, tipo de cirurgia, idade) frequentemente demonstraram maior poder preditivo individual. Embora associado ao aumento do RCP, a contribuição do ACSE para aprimorar a ERC, via métodos simplistas, é limitada e provavelmente redundante. Sua inclusão nas diretrizes, datada dos anos 90 e baseada em estudo associativo com 600 participantes, levanta dúvidas se há bases que sustentem sua utilização até hoje. É de suma importância discriminar efetivamente o poder associativo do ACSE e o poder preditivo do mesmo frente a informações já extraídas do paciente. Para que, assim, os protocolos de RCP não estejam apenas sendo inflados com informações que por vezes não agregam valor à tomada de decisão clínica, evitando exames e custos desnecessários e melhorando a segurança do paciente cirúrgico.