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Que o futebol é um fenômeno de massas, isso nós já sabemos. Que arrebata paixões violentas, também é fato. Que arrasta multidões, é incontestável. É nesse ambiente que surgem clubes que incorporam todos esses elementos e se tornam extremamente populares.

No Egito, por exemplo, o Al Ahly foi fundado ainda sob ocupação britânica e mais tarde se envolveu nos protestos que derrubaram o presidente Hosni Mubarak em 2011. O Al Ahly é conhecido como o clube do povo egípcio.

Mas aqui quero propor uma distinção: o que é um clube da massa e o que é um clube do povo? Parece a mesma coisa, mas não é. A diferença é sutil, mas fundamental — e tem a ver com história, posicionamento político e identidade social.

Vejamos o exemplo do futebol brasileiro. Flamengo e Vasco da Gama são clubes de massa, com milhões de torcedores apaixonados. No entanto, quando falamos de “clube do povo”, é preciso lembrar que não estamos falando apenas de tamanho de torcida, mas do papel que esse clube desempenhou na luta por justiça e inclusão.

⚠️ O Flamengo, sem dúvida, é o clube da massa.
✊ Já o Vasco da Gama é o clube do povo.

A diferença está nos gestos históricos. Em 1924, o Vasco se recusou a excluir atletas negros e operários de seu time, mesmo diante da pressão racista da elite esportiva da época. A resposta veio em forma de uma carta histórica que defendia seus atletas e os valores de igualdade. Essa atitude marcou o clube para sempre.

No futebol paulista, temos outro exemplo claro: o Corinthians. Fundado por operários, o clube se transformou em símbolo das camadas populares de São Paulo. Mas seu papel se intensificou ainda mais nos anos 1980, com o movimento da Democracia Corinthiana.

Sob a liderança de jogadores como Sócrates e Casagrande, o Corinthians enfrentou a ditadura com coragem: colocaram faixas nos jogos incentivando o povo a votar. Jogadores participavam das decisões administrativas do clube. Um verdadeiro ato de resistência.

Por isso, podemos afirmar que Vasco e Corinthians representam, sim, o que é ser clube do povo: romper barreiras raciais e sociais, se posicionar politicamente e fazer do futebol um espaço de luta.

Hoje, em tempos de SAFs, bilionários e clubes-empresa, é urgente lembrar que o futebol não é só negócio. Ele é identidade, memória e resistência popular.

Entre o time da massa e o time do povo…
Que saibamos reconhecer quem esteve com a gente — quando mais precisávamos.