Resumo

Em meio século, estudos sobre o esporte nas ciências humanas passaram de área menor a campo estruturado e multidisciplinar

No começo da década de 1980, quando Heloisa Reis iniciava sua carreira de jogadora de futebol no Guarani Futebol Clube, em Campinas, um fato recorrente atiçou sua curiosidade. A cada semana, um público majoritariamente masculino saía de casa para acompanhar as partidas, mas, em vez de torcer e incentivar as jogadoras que defendiam as cores de seu time, dedicava seu tempo a lançar impropérios e insultos contra as atletas.

Além de insultada, ela se sentia intrigada: o que é esse impulso que leva pessoas à arquibancada no domingo, não pela alegria do esporte, mas para agredir? Hoje professora titular de educação física na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a ex-jogadora relata que a pergunta está na base de muitas pesquisas que realizou na carreira acadêmica. “Com as entrevistas que fiz para o doutorado, comecei a entender melhor a violência que marcou a minha vida e impediu tantas meninas de seguirem jogando.”

A experiência de Reis ilustra como o esporte bretão é um campo de pesquisa privilegiado das relações sociais na nação que já foi chamada de “país do futebol” e “pátria de chuteiras”. Praticado por profissionais e amadores em todo o país, em estádios para dezenas de milhares de espectadores ou campos improvisados de terra na chamada “várzea”, capaz de mobilizar multidões em festas coloridas ou confrontos violentos, transmitido ao vivo pela televisão e internet, o futebol está por toda parte.

Acessar