Resumo
Os Congressos Internacionais de Educação Física (CIEP), realizados entre 1900 e 1913 na Europa, são destacados na literatura como palco de intensas disputas entre as diferentes sistematizações de educação física – período que ficou conhecido como a “guerra dos métodos”. Esses embates buscavam argumentar e definir qual era a melhor forma de exercitar e educar o corpo. O objetivo dessa pesquisa foi analisar a produção de conceitos e práticas de educação física nas diferentes edições do Congresso Internacional de Educação Física realizadas entre 1900 e 1913. A análise foi dividida em dois eixos. No primeiro, o CIEP foi analisado como um lugar de circulação e debate de ideias. Para tanto, investigamos o seu processo de proposição e organização, assim como os seus efeitos no desenvolvimento da educação física em vários países. O segundo eixo se concentrou nas ideias, não só sobre a guerras dos métodos, mas também sobre outras controvérsias. Nas análises, foram mobilizadas as categorias de internacionalização, redes, disciplina e discurso competente. Como fontes, foram utilizados os documentos oficiais dos Congressos, as publicações dos congressistas, assim como seus livros e manuais, além de revistas e jornais de educação física. Como resultados, concluímos que os Congressos Internacionais de Educação Física foram um lugar central no debate, circulação e produção de ideias sobre educação física que circularam em muitos países do mundo. Os seus principais efeitos foram a constituição de uma rede científica internacional e a criação de duas instituições internacionais. Concluímos ainda que nesses Congressos a educação física foi mudando de status, deixando de ser vista apenas como uma prática e passando a ser vista, e defendida, enquanto uma disciplina, um ramo do conhecimento. Os resultados dessa pesquisa, ao destacar as dimensões da circulação e das trocas entre os sujeitos, contribuem para uma mudança no olhar sobre os processos de constituição da educação física enquanto um ramo do conhecimento. Esse novo olhar busca desconstruir uma ideia de que a educação física tenha sido uma construção exclusivamente nacional e de que há centros hegemônicos de difusão de ideias. As pessoas leram, escreveram, responderam, viajaram, fizeram experimentos científicos, debateram nos Congressos, isto é, estabeleceram trocas que, no encontro, foram construindo aquilo que chamamos de educação física, mesmo que até hoje essa ideia tenha múltiplas interpretações ao redor do mundo.