Integra

Houve um tempo em que aeroporto era passeio de domingo. Famílias inteiras iam até lá apenas para ver aviões cortando o céu. Era quase um espetáculo: o ronco das turbinas, o pouso certeiro, o aceno para o nada. Hoje, o aeroporto é pressa, fila de embarque, detector de metais, atraso de voo. Um lugar de aceleração.

Sempre achei curioso Ícaro ser associado à aviação. Na mitologia, ele é o símbolo da queda — e não do voo. Voou alto demais, ignorou o aviso do pai, e despencou. Ainda assim, virou referência, até nome de revista. Um herói às avessas. Talvez seja isso que nos fascina: a ideia de desafiar o impossível, mesmo sabendo do risco.

O cinema, claro, adora uma tragédia aérea. Do voo desaparecido ao desastre gelado da Sociedade da Neve, a aviação é retratada como prenúncio do fim. Assim como os tubarões, transformados em monstros por Spielberg, ou os pobres Dobermans, condenados a vilões de tela. A ficção tem esse talento: fabricar medos.

Mas a vida real insiste em ser mais diversa. Aeroporto é lugar de lágrimas e abraços, de fugas e retornos, de exílios e reencontros. Há quem more nele, preso entre fronteiras; há quem o viva como rotina, entre a ponte aérea e o próximo embarque. Um lugar de esperas intermináveis e de recomeços inesperados.

Se paredes e corredores falassem, contariam histórias de amores interrompidos, despedidas sem volta e esperanças dobradas na bagagem de mão. O aeroporto, afinal, é menos sobre aviões e mais sobre gente. E, como toda boa crônica urbana, carrega em si o drama, a pressa e a poesia do cotidiano.

Professor Alexandre Machado Rosa