De Esparta e Atenas à tragédia do presente: a civilização humana precisa por fim ao capitalismo
Integra
Na antiguidade grega, havia duas cidades que pareciam viver em universos paralelos: Esparta e Atenas. Esparta era o império da rigidez, da disciplina, do militarismo. Atenas, por sua vez, a terra da filosofia, da arte, da democracia — ao menos para alguns, os cidadãos - hoje seriam chamados de “cidadãos de bem”. Mas se há algo que confunde nossos olhos modernos é o fato de que, em Esparta, as mulheres tinham voz, força, protagonismo social. Já em Atenas, bastava que gerassem filhos e ficassem nas sombras. A cidade da razão era também a do silêncio feminino.
As duas cidades colidiram na Guerra do Peloponeso. Uma luta que não deixou vencedores. Perdeu Atenas, perdeu Esparta. Perdeu, sobretudo, a Grécia, que viu seu esplendor ruir diante da própria arrogância.
Séculos se passaram, impérios nasceram e caíram, e hoje parece que voltamos a assistir à mesma tragédia com novos atores e uma tecnologia de transmissão ao vivo. O palco agora é global. A guerra já não é entre cidades rivais, mas entre projetos de mundo.
O capitalismo, esse sistema que tanto prometeu liberdade e progresso, chegou ao seu limite. Não há mais fronteiras a conquistar, só territórios a destruir. É um sistema que só avança com destruição: da natureza, da dignidade, da vida. E quando olhamos para o que acontece hoje na Palestina, fica difícil negar: estamos diante de um horror transmitido em tempo real, com requintes de crueldade que nem mesmo o passado ousou exibir tão abertamente.
Israel, com o apoio descarado dos Estados Unidos, leva adiante um projeto sionista, colonialista, racista e expansionista. Não se trata de defesa. Trata-se de ocupação, apartheid, genocídio. Um genocídio televisionado, onde vemos crianças morrendo de fome e mulheres sendo esmagadas por bombas, e tudo isso com legendas, gráficos e análises de especialistas. O horror virou conteúdo.
Diferente do Holocausto, que só foi revelado com a abertura dos campos de concentração pelos Aliados, agora tudo está escancarado. E o silêncio de quem pode parar isso é ensurdecedor.
Aliás, os EUA se especializaram em destruição. No século XX, venderam a imagem do salvador. No século XXI, nem isso mais. Do Iraque à Líbia, da Síria ao Afeganistão — tudo virou pó sob o pretexto da liberdade. Na América Latina, jogam xadrez com democracias, compram consciências, promovem golpes com a frieza de quem assina um contrato. E, quando não servem mais, descartam seus próprios fantoches — como fizeram com Noriega, no Panamá.
Esparta e Atenas se enfrentaram e arruinaram uma civilização inteira. Hoje, não são apenas duas cidades. É o mundo inteiro dividido entre civilizações que ainda tentam defender a vida — e outras que lucram com a morte.
A pergunta que resta é: quem somos nós nessa guerra? Esparta? Atenas? Ou apenas espectadores distraídos diante da barbárie ao vivo?
Professor Alexandre Machado Rosa