Resumo
A Educação Física enquanto componente curricular obrigatório coleciona uma série de críticas à sua contribuição dentro da escola, já que em sua linha temporal é possível identificar o caráter meramente recreativo, descompromissado e alienante ou a redução à prática esportiva, na qual se selecionam os educandos e as educandas mais aptos(as) e se ignoram os(as) demais. Todavia, com a redemocratização do país, em meados dos anos 1980, temos uma explosão de novos entendimentos sobre a função social desse componente curricular e qual seu papel dentro da escola. Nesse momento surgiram novas propostas curriculares carregando suas premissas ontológicas e político-pedagógicas, cada uma contribuindo em menor ou maior grau para legitimidade da Educação Física Escolar. Todas essas perspectivas foram produzidas a partir de inspirações teóricas críticas e pós-críticas em currículo. Mesmo com esses avanços, ainda existe em muitos contextos educacionais a ideia de colonialidade, especificamente nas aulas de Educação Física, com reproduções temáticas de matriz estadunidense e eurocêntrica. Nesse cenário, o principal objetivo desse estudo foi compreender como os(as) estudantes significam uma prática político-pedagógica descolonizada e libertadora nas aulas de Educação Física Escolar nas séries iniciais do ensino fundamental. Foi realizada pesquisa de natureza qualitativa e do tipo descritiva exploratória, tratando de um estudo de caso. Os dispositivos para a produção das informações utilizados foram a análise documental, o diário de campo e o círculo de cultura com 11 estudantes do 5º ano do ensino fundamental em uma escola municipal localizada no interior do estado de São Paulo. O material empírico foi submetido à análise temática. Os resultados apontaram para três categorias temáticas: por uma prática político-pedagógica decolonial/descolonizada na Educação Física Escolar; Educação Física Escolar crítico-libertadora: análises e reflexões sobre a materialização de uma prática político-pedagógica decolonial/descolonizada; e Educação Física Escolar libertadora e antirracista. Ao final do trabalho, foi possível perceber tomadas de consciência nos(nas) estudantes sobre a valorização da cultura afro-brasileira e indígena advinda das práticas corporais, possibilitando primeiras aproximações com uma pedagogia libertadora, antirracista e decolonial/descolonizada nas aulas de Educação Física.