Entre o turismo esportivo e o turismo de aventura: distinções para o contexto brasileiro
Por Lais Cristyne Alexandre dos Santos (Autor), Fernando Marinho Mezzadr (Autor).
Resumo
: Desde 2010 o Brasil tem sido eleito, pela World Travel Awards, como o principal destino de turismo esportivo na América do Sul, destacando a cidade do Rio de Janeiro e ficando à frente (em 2023) de cidades como Bariloche na Argentina, Lima no Peru e Santiago no Chile (World Travel Awards, 2023). Por outro lado, em 2023 um relatório da empresa US News & World Report (US News & World Report, 2023) classificou o Brasil como melhor destino para o turismo de aventura. Embora já se identifiquem estudos para a conceituação do turismo esportivo (Gammon & Robinson, 1997; Gibson, 2005; Gibson, 1998) e do turismo de aventura (Callander & Page, 2003; Koder, n.d.), muitos dos exemplos para esclarecimento se pautam em casos estrangeiros (H. Gibson, 2005) e não é raro encontramos notícias e publicações na mídia que, por vezes, confundem estes segmentos (Silva, 2014). Objetivo: Delimitar os conceitos de turismo esportivo e turismo de aventura, e propor classificações para o primeiro de acordo com o contexto brasileiro. Metodologia: este é um estudo qualitativo para o qual, considerando os distintos meios de veiculação das publicações sobre o turismo esportivo e turismo de aventura, recorreu-se a uma revisão de literatura do tipo narrativa, a qual busca o estabelecimento de um “estado da arte” sobre a temática da pesquisa, a partir de um prisma teórico e contextual (Biblioteca Professor Paulo de Carvalho Mattos, 2015; Rother, 2007). Desta maneira, foram incluídos na busca artigos de periódicos, artigos jornalísticos, teses, dissertações, livros, legislações e publicações digitais sobre os conceitos supracitados. Assim como nas entrevistas, o esgotamento das fontes se deu a partir da repetição das informações encontradas. Principais resultados: o turismo esportivo possui distintas propostas quanto a sua conceituação e categorização, como o caso de Delpy (1998) que propôs cinco categorias: atrações, resorts, cruzeiros, eventos e tours, enquanto Gammon & Robinson (1997) indicam uma categorização baseada em esporte turístico e turismo esportivo, cada qual com as subdivisões hard e soft. No entanto, seguir-se-á com a definição de Hinch & Higham (2011) que abordam o turismo esportivo como viagens de teor esportivo, realizadas para fora do ambiente doméstico, tendo o esporte um teor competitivo relacionado à habilidade física. Nos blogs e publicações digitais, o turismo esportivo teve um número maior de notícias após 2020, mas normalmente associado com a participação em algum evento competitivo. O turismo de aventura, por sua vez, possui uma veiculação maior nas plataformas digitais e notícias, sendo definido como uma atividade sem fins competitivos, onde o participante (ABETA, 2021; Widmer et al., 2010) realizará atividades de aventura de caráter recreativo e não competitivo (Ministério do Turismo, 2010), esta é a definição balizada pelo governo brasileiro, determinando a atuação das políticas públicas. Na literatura acadêmica, o turismo de aventura assume a definição de atividades que promovem o sentimento de aventura e excitação em um ambiente ao ar livre, ou ainda associado ao ecoturismo (Callander & Page, 2003; Koder, n.d.). Hoje o turismo de aventura é baseado num espectro de atividades que vai desde as menos energéticas (balonismo, por exemplo), até aquelas que promovem sensação de risco (bungee jump ou parapente) (Callander & Page, 2003). Se reconhece então, que os esportes de aventura estão inseridos no turismo esportivo, mas que estes são segmentos bem delimitados. E se propõe que o turismo esportivo tenha sua classificação adaptada da proposta de Gibson (2005), estabelecendo as classificações: espectador esportivo, prática esportiva e patrimônio esportivo – a última discutida por Ramshaw & Gammon (2005). Portanto, o ponto de partida é o fator motivador da intenção da viagem, que pode ser o esporte como motivo principal ou secundário e considera ainda que o turista esportivo pode estabelecer um roteiro multiesportivo, permeando as distintas classificações estabelecidas. Pretende-se ir além da exemplificação do turismo esportivo baseada nos megaeventos, considerando outros tipos de relação com o esporte, mas tendo em vista que, conforme Uvinha (2016) aponta, a realização destes no Brasil promoveu legados para os setores esportivo e turístico. Considerações finais: O entrelaçamento entre os setores do esporte e do turismo nas políticas públicas, acontece no Brasil com aproximações e distanciamentos, desde o período do Estado Novo. Nota-se que as delimitações de turismo esportivo são da literatura científica internacional, dificilmente abordadas em profundidade quando se trata das informações de acesso mais fácil à população brasileira, seja pela barreira do idioma ou pelo tipo de veiculação da informação. Já as definições acerca do turismo de aventura são mais comuns, tornando-as mais acessíveis ao público em geral. Esta pesquisa faz parte de um estudo maior, uma tese ainda em desenvolvimento, da qual pelas revisões iniciais resultou na necessidade de estabelecimento de um conceito de turismo esportivo adequado ao contexto brasileiro. Esta aproximação entre as áreas muitas vezes confunde quanto ao foco de algumas ações, ou seja, se elas seriam mais do esporte, do lazer ou do próprio turismo.