Resumo

Introdução: As permanentes disputas, apostas e atravessamentos da ordem biopolítica-necropolítica, objeto de atenção e análise pela saúde coletiva e pelas ciências humanas e sociais, estão ausentes na formação (pública e privada) em educação física (EF). Sem desconsiderar os diálogos entre EF e essas e outras áreas, epistemologias apagadas/negadas, às quais fazemos corpo como coletivo de pesquisa desde 1999, urge amplificar o debate sobre as colonizações que nos constituem e produzem processos de subjetivação culpabilizantes/desqualificadores do outro nas ações de saúde-cuidado. Neste contexto, tomamos as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) como recorte para problematizar a respeito da produção-publicação de políticas e as inserções nos currículos de modo precário, sem garantir saberes e práticas descolonizados-compartilhados-democráticos com usuários/comunidades e ou interprofissionais/intersetoriais. Metodologia/objetivo: Problematizar aspectos da formação-atuação em saúde partindo do cotidiano de uma profissional de EF em Unidade de PICS em São Paulo, considerando os encontros com usuários(as) e profissionais. O diário de campo foi adotado como recurso metodológico pela trabalhadora e as análises aprofundadas com companheiras do grupo de pesquisa supracitado. Desenvolvimento: A formação-atuação na EF segue privilegiando a perspectiva biologizante/moralizante/medicalizante/tecnicista ancorada nos preceitos de risco e combate ao sedentarismo associada à prescrição de condutas esvaziadas de sentidos sobre saberes, valores, necessidades, questões e expectativas constitutivas do viver. No campo das PICS no SUS, percebe-se esta repetição colonizante cujas forças/vetores (como modelo médico-hegemônico, mercado, modo hegemônico de produzir políticas) agenciam um pensar-agir orientado para queixaconduta com privilégio das PICS de interesse da medicina, desconsiderando-se outras formas de cuidados (afroindígenas). Isso impede encontros com pressupostos, concepções, valores, saberes/fazeres integrativos e o manejo das PICS como tecnologias leves no cuidado. Resultados: Das tensões, capturas e constrangimentos identificados na formação e no trabalho com as PICS no SUS, citamos: espaço de vocalização pelo usuário voltado à doença; profissionais pouco permeáveis para incorporar as dimensões do viver que interferem no adoecimento-cuidado dos/pelos usuários; centralidade na restauração da normalidade/funcionalidade e no capacitismo com repercussões nas ofertas dos serviços; forte atravessamento do trabalho pela terceirização da gestão; ausência de espaços de educação permanente interrogando/potencializando o trabalho vivo e em redes, como movimentos de vocalizações e escutas dos usuários, que ampliam a percepção dos sentidos atribuídos ao uso de plantas, às ancestralidades e aos femininos como dimensões que interferem nos cuidados individuais e coletivos.

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