Resumo

O segmento de mochileiros (ou backpacker) vem apresentando um crescimento expressivo no turismo brasileiro, especialmente na última década. Mochileiros são sujeitos que viajam por longos períodos, se organizando de forma independente, econômica e flexível. Contrapondo-se ao turismo de massa, eles viajam para destinos pouco visitados, contando com pouco ou nenhum conforto. Geralmente representados como jovens que dispõem de muito tempo e pouco dinheiro, os mochileiros priorizam as interações sociais e a autenticidade de suas viagens. Porém, fugindo à imagem tradicional do mochileiro, existem pessoas com mais de sessenta anos que realizam esse tipo de viagem. Contrariando os estereótipos da velhice, eles aproveitam o período da aposentadoria, ou a menor carga de trabalho, para viajar pelo País e pelo mundo. Utilizando a metodologia de história oral, este estudo, ainda em fase inicial, busca conhecer a história desses sujeitos e suas viagens. A história oral suscita representações da experiência vivida e possibilita a atribuição de sentidos ao passado pelo sujeito. Sendo assim, por meio de entrevista temática, este projeto pretende despertar a memória de viagens passadas e presentes, incentivando a reflexão sobre tais vivências nessa fase da vida. Propõe-se também a análise dos hábitos, aspirações e preferências de viagem dos entrevistados, considerando o cenário turístico atual. Dispondo de muito tempo livre e poder aquisitivo limitado, os entrevistados optam por viagens longas com custos mais baixos, que propiciam interações com comunidades locais e outros viajantes. Nesse contexto, o convívio e troca de experiências com pessoas de diferentes nacionalidades e contextos sociais são fatores muito valorizados. Eles lidam de diferentes formas com as dificuldades comuns a esse tipo de viagem: hospedagens simples, longas distâncias a percorrer, meios de transporte precários, alimentação irregular, insegurança, limitações físicas e financeiras. Esses sujeitos se distinguem do turista da “melhor idade”, alvo de políticas públicas implementadas pelo Ministério do Turismo na última década, que procuram, comumente, destinos como estâncias hidrominerais, praias, resorts e cruzeiros marítimos. Mais do que usar o turismo como ferramenta para um “envelhecimento ativo”, eles transformam suas viagens em um estilo de vida. Os entrevistados realizam agora as viagens que não puderam fazer em suas juventudes por falta de dinheiro ou tempo. Para eles, o “mochilar” faz parte de um processo de reconstrução de identidades. Dessa forma, o envelhecimento, associado socialmente à ideia de inatividade, se torna o momento ideal para investir em tais aventuras. Viajando sozinhos, eles afirmam sua liberdade e individualidade, não dependem dos cônjuges, filhos ou netos, eles são livres para fazer suas escolhas de forma independente.