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Em tempos em que o óbvio parece estranho, o Brasil volta a discutir o direito à infância. O termo “adultização” vem sendo utilizado para nomear, de forma mais ampla, a negação desse direito fundamental: quando crianças são empurradas precocemente para responsabilidades, padrões de consumo e realidades que não lhes pertencem.

Vale lembrar que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) continua sendo, ao menos no papel, uma das legislações mais avançadas do mundo em termos de proteção integral à infância e à adolescência. Entretanto, a distância entre a letra da lei e a prática cotidiana revela contradições profundas. A infância segue sendo violada em diferentes dimensões, seja pelo trabalho infantil, pela violência, pela exploração midiática, pela precariedade da educação e do acesso ao lazer.

O professor João Batista Freire há anos denuncia o trabalho infantil no esporte. Em um de seus exemplos mais contundentes, cita crianças que passam horas e horas sendo adestradas na ginástica artística, privadas do direito a um desenvolvimento livre, criativo e saudável. Nesse processo, o que deveria ser espaço de ludicidade e aprendizado torna-se um terreno de exploração precoce.

Falar de infância, portanto, não é apenas reconhecer uma fase da vida, mas reafirmar um direito humano essencial, o de viver plenamente o tempo de ser criança.