Interseccionalidade e a desigualdade na prática de exercício físico e esporte no Brasil
Por Michele Santos da Cruz (Autor), Margarethe Thaisi Garro Knebel (Autor), Tamires Roldão da Silva Leite (Autor), Paulo Vinicius Fernandes da Silva (Autor).
Em XV Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde - CBAFS
Resumo
O acesso ao exercício físico e esporte no Brasil é marcado por desigualdades e a sobreposição de diferentes marcadores sociais influenciam a participação nessas atividades. Assim, este estudo objetivou analisar a associação entre a prática de exercício físico ou esporte (EFE) e a interseccionalidade de marcadores de desigualdade social na população brasileira. Estudo transversal com dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 (n = 85.882 pessoas com ≥15 anos). A estimativa de prática de EFE nos últimos três meses foi o desfecho. A exposição de interseccionalidade foi calculada pela soma de cinco marcadores de desvantagem social em que foi atribuída pontuação = 1 para cada desvantagem presente: gênero (se mulher), identidade racial (se preta, parda ou indígena), escolaridade (até o ensino fundamental completo), rendimento domiciliar per capita (≤2 salários mínimos) e orientação sexual (se bissexual, homossexual ou outra). Portanto, os indivíduos obtiveram pontuação de 0 (maior privilégio) até 5 (maior interseccionalidade). Foram calculadas prevalências e modelos de regressão logística com delineamento amostral complexo. A prevalência de prática de EFE na amostra total foi 42,1% (IC95%: 41,4-42,8). Entre o grupo de maior privilégio, 67,7% relataram praticar EFE, enquanto apenas 27,9% o fizeram no grupo com maior interseccionalidade. Os dados evidenciaram redução progressiva das chances de praticar EFE a cada acréscimo de marcador de desvantagem: redução de 30,5% (OR=0,70; IC95%: 0,61-0,79) com 1 marcador, 59,5% (OR=0,40; IC95%: 0,36-0,46) com 2 marcadores, 77,0% (OR=0,23; IC95%: 0,20-0,26) com 3 marcadores, 83,8% (OR=0,16; IC95%: 0,14-0,19) com 4 marcadores e 81,5% (OR=0,19; IC95%: 0,09-0,40) com 5 marcadores comparando com indivíduos de maior privilégio social. Esses resultados reforçam a necessidade de políticas públicas interseccionais que reduzam as desigualdades e ampliem o acesso a práticas de exercícios físicos e esportes, assim como ações de promoção da saúde para grupos historicamente oprimidos é urgente.