Resumo

Traçando uma analogia entre o fracasso escolar problematizado por Bernard Charlot e o fracasso esportivo de meninas no futebol, nesse ensaio, refletimos sobre as aproximações e tensões teóricas entre os escritos desse autor e os estudos pós estruturalistas de gênero. Argumentamos que esse diálogo, além de contribuir para a reflexão sobre as influências das relações de gênero para as relações com o saber, é bastante profícuo, já que ambas as perspectivas enfocam a problemática da agência, sem, no entanto, renunciar à enunciação das interpelações políticas, normativas e institucionais.  Para desenvolver essa argumentação, primeiramente, apresentamos os discursos culturais acerca do futebol praticado por meninas e mulheres no Brasil, evidenciando e problematizando a forma como eles colocam-nas em situação de fracasso esportivo. Em seguida, fazemos um breve incurso de aproximação entre as relações de gênero e o aprender. Em terceiro lugar, apresentamos uma problematização ao “fracasso esportivo”, com base nas reflexões de Charlot, atravessadas pelo referencial dos estudos de gênero, buscando indagar questões ligadas às relações de sentido e de mobilização como forma de fazer gênero. Em quarto lugar, apresentamos um argumento alternativo ao fracasso esportivo, evidenciando as relações de sentido e de mobilização como forma de performatizar gênero. E por fim, trazemos a ideia de aprender como incorporação. Assim, buscamos frisar a importância de construir espaços plurais de participação no futebol, para que frente aos discursos culturais que o caracterizam como uma atividade de contato, agressiva e perigosa para meninas, elas sejam capazes de tensionar, transgredir e fazer “gênero”.

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