Resumo
Em São Paulo, em 1930, a população negra buscava construir um estilo de vida, na medida em que as condições sociais ocorriam, fundaram clubes e associações para estimular a sociabilidade e práticas de lazer, promovendo eventos esportivos que ganharam destaque entre os negros. Um dos principais meios de difundir essas atividades era pelos canais da imprensa negra, uma associação de jornais que tinha como pauta a integração social do negro. Entre os jornais que integravam esta organização, estava o jornal A Voz da Raça, que circulou entre os anos de 1933 e 1937, em São Paulo, produzido pela Frente Negra Brasileira, associação de negros que buscava reivindicar a integração social dos negros. O jornal era utilizado para fomentar e estabelecer práticas sociais, como esportes. Os debates sobre temas como saúde, trabalho e estilo de vida da população brasileira ganharam destaque com as correntes eugenistas e higienistas que influenciaram o governo de Getúlio Vargas. Neste estudo analisamos as representações de saúde e de estilo de vida da população negra, entre 1933 e 1937, construídas no jornal A Voz da Raça a partir das práticas esportivas presentes no estilo de vida da população negra. Amparando-se nas lentes da História Cultural, o estudo utilizou o conceito de “campo” na perspectiva das práticas esportivas, a partir de Pierre Bourdieu, para compreender as relações de poder nele estabelecidas e as representações de saúde através dele geradas. A utilização do A Voz da Raça como fonte histórica de pesquisa surgiu a partir de uma consulta aos seus exemplares na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil, em que o analisamos como um instrumento de poder e de sociabilidade, produtor de discursos a partir do olhar de quem o produz. . A investigação mostra que organizações esportivas da população negra eram utilizadas como mecanismos para difundir ideias, valores e instruções pelos dirigentes da Frente Negra Brasileira, que apresentavam uma aderência às concepções do governo de Getúlio Vargas, desta forma, propagando instruções que construíssem a imagem de negro disciplinado, organizado e com sentimento de pertencimento à pátria, ao mesmo tempo em que lutava pela construção de uma identidade que representasse positivamente o negro na sociedade. Para tanto, o jornal fomentava um estilo de vida baseado em representações de saúde higienista, primando pela valorização da moral, do físico e da pátria.