Resumo

Esta comunicação aborda a questão das mobilidades migratórias no futebol, debruçando-se especificamente sobre a migração de futebolistas africanos para Portugal. O futebol português, ao longo da sua história, ainda que com diferentes intensidades e dinâmicas, tem sido marcado por vários fluxos migratórios. Um desses fluxos mais significativos foi colonial, tendo origem nas colónias africanas portuguesas e, prolongou-se por várias décadas, até à dissolução da relação colonial em 1974. Transferidos das colónias, sobretudo de Moçambique e Angola, para clubes portugueses, muitos destes jogadores acabaram por representar a seleção nacional portuguesa. De todos os jogadores que este fluxo proporcionou ao futebol português, destaca-se Eusébio, vencedor da Bola de Ouro em 1968. Mais tarde, em resultado de várias metamorfoses do futebol à escala mundial, este fluxo perdeu importância, sendo suplantado pela imigração de jogadores brasileiros para Portugal. Nos últimos vinte anos, a presença de jogadores estrangeiros em Portugal, a representarem clubes da primeira liga, foi sempre superior à dos jogadores nacionais. Portugal é um país de migrações futebolísticas, tanto de entradas como de saídas. Se, por um lado, o mercado português se concentra em jogadores com menos experiência profissional e, portanto, menos cotados; por outro lado, os jogadores encaram o mercado de transferências português como uma forma de acesso privilegiado a outros campeonatos do mercado europeu de trabalho futebolístico. Numa abordagem relacional, esta comunicação discute as dinâmicas que presidem à mobilidade dos jogadores de futebol africanos. Centra-se essencialmente nos jogadores sem visibilidade mediática, vulneráveis a estratégias e lógicas que os transcendem, Com base numa investigação qualitativa, realizada no âmbito de um projeto europeu sobre a integração de jogadores africanos na Europa, esta comunicação levanta a questão das redes de poder que se estabelecem no país de origem e no país de acolhimento; as estruturas de recrutamento destes jogadores; as motivações para migrar; e, finalmente, as formas de lidar com os projetos falhados devido à impossibilidade de ter sucesso no mundo altamente competitivo do futebol.

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