Integra

Orfeu é um dos heróis da mitologia grega. Conhecido por sua música e por seu amor por Eurídice. Ao perdê-la, sua coragem o conduziu até o mundo dos mortos. Desceu ao submundo de Hades — irmão de Zeus e deus dos mortos — para tentar resgatar sua amada.

Orfeu também foi um dos Argonautas. Aliás, o mito de Jasão e os Argonautas é um dos mais simbólicos da mitologia grega. Representa as primeiras explorações dos gregos por mares desconhecidos em busca do Velocino de Ouro, uma espécie de Graal da antiguidade.

Segundo o mito, Orfeu era um grande músico. Com sua lira, era capaz de comover deuses, feras e pedras. Talvez por isso, sua figura tenha atravessado séculos como símbolo do poder transformador da arte.

A ideia de mortais serem comparados a divindades, ou até mesmo tornarem-se divinos, existe desde que a humanidade passou a produzir cultura e a desenvolver linguagem, imaginação e pensamento complexo. A inteligência humana criou as extraordinárias mitologias antigas. Hércules, por exemplo, é talvez o maior herói da mitologia. Ao morrer, foi alçado ao Olimpo como um deus. 

Tudo isso me faz pensar em Gilberto Gil

Assim como Orfeu, Gil conheceu o submundo da dor: a prisão, o exílio, a humilhação. E, recentemente, a dor mais dilacerante: perdeu sua segunda filha para a morte. Preta Gil. O nome Preta, aliás, foi um tapa na cara do racismo brasileiro. Questionado pelo cartório sobre o nome que queria dar à filha, respondeu com firmeza: Sim, Preta. Como é Blanca, Bianca, Branca, Clara…

Gil, assim como professores, artistas, cientistas, escritores  — Argonautas da educação, da arte, do pensamento — fundou a Tropicália. Movimento que conduziu a música popular brasileira para mares distantes, ampliando, em muito, os domínios da cultura. Não apenas a brasileira. A humana.

Gil é músico, intelectual, divindade.
Como Orfeu, transforma dor em beleza, silêncio em som, morte em memória. Viva Gilberto Gil!

Por Professor Alexandre Machado Rosa