O país dos bacharéis não existe mais?
Integra
Houve um tempo em que o Brasil era conhecido como o país dos bacharéis. Cantado em verso e prosa, descrito pelos primeiros cientistas sociais como tal, o país dos bacharéis foi moldado pelos filhos dos fazendeiros escravocratas que almejavam tornar-se os burgueses de Brusundanga.
Os bacharéis eram o símbolo máximo da distinção social.
• Os advogados, ah, os advogados, ostentavam anéis com pedra Rubi, vermelha, símbolo do poder e da eloquência — o poder genérico dos que dominavam as palavras e as leis.
• Os médicos usavam Esmeraldas verdes, associadas à cura, à natureza e à fé na ciência, representando a confiança na razão e no progresso.
• Os engenheiros, com suas Safiras azuis, proclamavam a serenidade e a sabedoria das ciências exatas, o domínio sobre a técnica e o concreto.
• Os dentistas, por sua vez, exibiam Granadas vermelhas, cor do sangue e da paixão, um brilho que unia a precisão à estética.
Os anéis eram mais do que adornos, eram marcas de status, símbolos de um Brasil que se queria ilustrado, culto, racional.
Mas esse tempo passou. As classes dominantes já não se preocupam em parecer cultas ou civilizadas. Abandonaram os anéis, os livros e os discursos de polidez. Hoje, quanto mais tosco, bruto e ignorante, melhor.
O país dos bacharéis transformou-se no país dos bárbaros com diploma, ou, mais grave ainda, no país dos que se orgulham de não precisar de nenhum. O uso e a prática da violência física, simbólica e política, tornaram-se moda.
O que antes se escondia atrás dos ternos bem cortados e das pedras preciosas agora se oculta sob o discurso de ódio, a mentira pública e a insensatez travestida de coragem. E aqueles que antes coravam de vergonha ao serem desmascarados, hoje sorriem diante das câmeras, impávidos, certos de que o rubor já não é sinal de decência, mas fraqueza.
Que voltem os anéis, porque os dedos já se foram!
Professor Alexandre Machado Rosa