Integra
“…Você não sabe como é caminhar com a cabeça na mira de uma HK
Metralhadora alemã ou de Israel
Estraçalha ladrão que nem papel…”
— Diário de um Detento, Racionais MC’s
O racismo é cotidiano na sociedade brasileira. Olhares suspeitos do vigia. Revistas em praças públicas e espaços privados. Humilhações e insultos, violência policial e racismo nas instituições públicas e privadas são barreiras quase naturalizadas em uma sociedade que torna crime ser negro.
O professor da USP Kabengele Munanga costuma repetir, sempre que provocado, que “no Brasil, o racismo é um crime perfeito”. E é. O racismo brasileiro é cruel, é dissimulado e tem como aliado fiel o cinismo, não o cinismo de Diógenes, o filósofo que vivia num barril e inaugurou uma corrente inteira dedicada a expor as hipocrisias da vida pública, mas o cinismo brasileiro, aquele que preserva privilégios enquanto mantém tudo exatamente como sempre foi.
A estrutura racial do Brasil é feita de requintes de crueldade. Não apenas de violência direta, mas de sutilezas mortais, de mecanismos sociais que naturalizam a desigualdade como se fosse consequência lógica da vida. Aqui, a meritocracia vira mantra liberal repetido à exaustão pelos herdeiros, herdeiros de quê? Do capital acumulado as custas de trabalho escravo e da herança do racismo erguido pelas elites brancas. Da ordem social que ergueu um país inteiro sobre a desumanização de pessoas negras e, depois, batizou isso de “democracia racial”.
No Brasil, todos sabem como se tratam os pretos. Não é segredo. Não é falha pontual. É método.
E a ciência? Ao contrário da fantasia de que teria desempenhado um papel modernizador e igualitário, a ciência brasileira historicamente ajudou a reforçar hierarquias raciais, a legitimar desigualdades e a construir, com aparente neutralidade, a imagem de um país destinado às “pessoas de família”. A ciência não foi a alavanca da igualdade: foi, muitas vezes, o instrumento que conferiu lustro acadêmico às estruturas de exclusão e ao racismo, né, Oliveira Viana!
O que o racismo fez de nós?
Fez um país onde a violência é distribuída com precisão cirúrgica.
Fez um país onde a exclusão não é exceção: é projeto.
Fez um país que ainda não teve coragem de confrontar o mito confortável que chamou de democracia racial.
Professor Dr. Alexandre Machado Rosa
Homem negro