Resumo

O trabalho tem como objetivo etnografar as sociabilidades configuradas na torcida organizada Clube Desportivo Pavilhão 9, dedicada ao Sport Club Corinthians Paulista (ou, simplesmente, Corinthians), fundada na cidade de São Paulo em setembro de 1990 e que, já a partir de 1991, participa oficialmente do carnaval paulistano como bloco especial, sendo então denominada como Grêmio Recreativo Cultural Social Bloco Torcida Clube Desportivo Pavilhão 9. Durante os anos de 2020 e 2022, a pesquisa foi empreendida através de visitas à sede da torcida (onde também se realizam os ensaios no período pré-carnaval), aos espaços de produção das fantasias e alegorias, entrevistas com integrantes da torcida e da direção de carnaval da agremiação e observação participante dos eventos promovidos na sede, das idas ao estádio para partidas do Corinthians, do desfile e da apuração das notas do concurso. A pesquisa em curso ancora-se nas conclusões do estudo empreendido por Ferreira (2020), o qual mostra que, em São Paulo, a relação entre o futebol e o carnaval no interior das torcidas organizadas não ocorre nas mesmas condições de contorno, apesar da literatura escassa sobre o assunto assumir um construto semelhante identificando tão somente quem são estas agremiações (CAMPOS e LOUZADA, 2012) e em que grau estes torcedores organizados aderem ao carnaval de sua torcida organizada (HOLLANDA e MEDEIROS, 2018). Sobre estas condições de contorno, apenas os trabalhos de Bueno (2015) e Souza Junior (2020) versam sobre como estas duas cosmovisões se imbricam no caso de uma única torcida organizada específica, focando os mecanismos conciliatórios dos discursos de virilidade da torcida organizada e de confraternização preconizados pelo carnaval. No decorrer do estudo, verificou-se que, apesar de identificar os mesmos mecanismos conciliatórios, as mudanças empreendidas na participação no carnaval nos últimos três anos, quando se alterou a gestão de produção do desfile, vêm possibilitando à Pavilhão 9 ocupar o espaço urbano de outras formas para além do já estabelecido como torcida organizada, marcado profundamente pelo estigma e pela posição de liminaridade no próprio universo das torcidas organizadas em virtude de uma série de eventos trágicos (internos ou externos relacionados) ao longo da existência. Por fim, destaca-se que, mesmo com as consequência oriundas das mudanças na gestão do carnaval, o discurso norteador sempre é honrar o nome e a instituição Corinthians, que internamente caracteriza-se como manifestação de uma estrutura teleoafetiva.