Resumo

Do ponto de vista histórico, é comum pensar o futebol como tendo surgido na Inglaterra e, embora possa se dar crédito a este país no que diz respeito a organização e sistematização das regras do denominado futebol moderno, compreendemos este como resultante de um processo de esportivização de jogos oriundos de diversas partes do mundo, transportados para a Inglaterra a partir dos contatos com povos invadidos e colonizados na África, Ásia, Oceania e América. Atualmente, têm-se recuperado jogos originários similares ao futebol, bem como tem ocorrido o desenvolvimento de outros como alternativa ao futebol de alto rendimento, midiático, originando o termo futebóis e, especificamente, o Fútbol Callejero. Basicamente, o Fútbol Callejero se joga com homens e mulheres na mesma equipe e em três tempos: 1º. são combinadas as regras entre todos/as participantes e anotadas por um/a mediador/a; 2º. ocorre o jogo propriamente, balizado pelas regras previamente acordadas; 3º são problematizadas as situações ocorridas na partida, entre todos/as jogadores/as juntamente com o/a mediador/a, e estes/as em diálogo expõem seus pontos de vista, chegando-se a uma pontuação que indica a equipe vencedora, não sendo necessariamente a que fez mais gols, mas a que melhor cumpriu os combinados realizados no 1º tempo, bem como os pilares fundamentais previstos no Fútbol Callejero: respeito, cooperação e solidariedade. Este trabalho apresenta resultados parciais de uma pesquisa de doutorado em andamento, que tem como objetivo central identificar e compreender a percepção dos/as Ministrantes de cursos de formação de mediadores/as de Fútbol Callejero (realizados entre 2013 e 2022), desta ação e processos educativos emergentes. O/A mediador/a atua com a premissa de questionar, com a intenção de despertar nos/as participantes autonomia, reflexão e diálogo, tendo como referência a observação dos pilares (respeito, cooperação e solidariedade) e, assim sendo, é desejável uma formação dialógica, reflexiva, que favoreça atuação destes/as como lideranças locais, na melhoria e ampliação da prática do Fútbol Callejero a mais pessoas. Explicitamos que tais mediadores/as de Fútbol Callejero no estado de São Paulo, Brasil, são formados pela Rede Paulista de Futebol de Rua em parceria com a organização social Ação Educativa. Entidades que contatamos para termos acesso aos/as Ministrantes de cursos de formação e destes/as entrevistamos nove. Após transcrição e análise fenomenológica emergiram duas categorias: A) “Minha história de vida cruza com o Futebol de Rua”, que detalha trajetória de vida dos/as entrevistados/as, contato destes/as com o Fútbol Callejero, e como ascenderam a Ministrantes do primeiro curso; B) “Ver aqueles meninos e aquelas meninas, um dia, no nosso lugar, fazendo essa fala de formação”, a qual versa sobre as percepções dos/as ministrantes do curso de formação, seus desdobramentos e anseios.

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