Resumo
Muito se fala sobre os problemas do cotidiano escolar, o fracasso escolar e sobre os alunos considerados problemas. Pouco discutimos sobre as práticas pedagógicas cotidianas no interior das escolas. Menor ênfase ainda é dada ao relato dos jovens sobre suas vivências escolares e os modos como as experimentam. Com o intuito de analisar esta temática, abordamos o assunto a partir de uma pesquisa realizada no site da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES - em que percebemos que os alunos têm sido pouco ouvidos e que as publicações acadêmicas focalizam em geral "sujeitos" advindos das classes mais pobres e dos bairros periféricos. ° inusitado do presente estudo refere-se à sua localização: um bairro de classe média na cidade de São Paulo. Procuramos ouvir, observar e analisar um grupo de jovens que diariamente permanece na porta de uma escola pública de ensino fundamental e médio, os quais, a princípio, imaginávamos não estudarem mais. Com o decorrer do trabalho de campo, apreendemos que eles ainda são matriculados na escola e que, em alguns dias, entram e assistem às aulas: "Dependendo do professor", segundo suas próprias palavras. Nos demais dias, ficam na entrada da escola, conversando, tocando violão e fumando. No processo de compreender o que permeia este ato de "ficar na porta" descobrimos que se trata de uma resistência em abandonar de vez a instituição. É importante destacar que as autoridades escolares passam por eles diariamente sem demonstram interesse algum em reinseri-Ios em seus papéis de alunos freqüentes à escola. E eles, por sua vez, participam ativamente do jogo quando lhes convém. Prática esta que aprenderam dentro da escola quando seus professores os retiravam da sala de aula e eles ficavam livres para estar onde quisessem. Práticas como estas compõe o que denominamos de processo de escolarização precária. Este estudo apresenta algumas contribuições relacionadas a este processo.