Resumo

A presente dissertação teve como foco o desenvolvimento de um equipamento para medição da resistência gerada na interação do calçado de futebol (chuteira) com a superfície. O interesse nessa medição, se deve ao fato de que tem sido associado ao uso de chuteiras um grande aumento do número de lesões de não contato, e que estas lesões são decorrentes de uma alta resistência rotacional oferecida pela chuteira nos movimentos de mudança de direção. Neste contexto, essa dissertação teve como objetivo propor um equipamento para medir a interação do solado com a superfície e testar suas características psicométricas. Na dissertação constam dois artigos. O primeiro artigo está relacionado ao protocolo de desenvolvimento: um estudo com o objetivo de apresentar o equipamento com os respectivos índices de confiabilidade, o protocolo de avaliação, e as medidas que o equipamento é capaz de fornecer. Dentre essas medidas, foram extraídas da curva de torque em função do ângulo de rotação, o valor máximo de torque (MAX), valor de torque em 45 graus de rotação (Torque 45), valor de torque na zona intermediária de medição (TorqueZD), valor de torque em 90 graus de rotação (Torque 90), rigidez rotacional (rigidez), trabalho até a rotação de 45 graus (AT45) e trabalho total até 90 graus de rotação (AT90). Foram utilizadas 11 chuteiras para avaliação. Para verificação da confiabilidade foi utilizado os valores de ICC, SEM, MDC e RMS, sendo verificada a confiabilidade das medidas sucessivas no mesmo dia e da reprodutibilidade uma semana depois. Para medidas sucessivas foram utilizadas 10 medidas realizadas um único dia, enquanto para as medidas de reprodutibilidade foram utilizadas 5 medidas do primeiro dia e 5 medidas do segundo dia medido uma semana depois. Para todas as variáveis analisadas o ICC foi alto > 0,90 com baixos valores de SEM, MDC e RMS, tanto para repetibilidade como para reprodutibilidade. De modo geral, o equipamento mostrou ser um sistema de medição confiável para avaliar mecanicamente a interação de diferentes solados de chuteira e o gramado artificial. As variáveis MAX, Rigidez, AT45 e AT90, são indicadas como as principais medidas a serem consideradas para futuras avaliações. O segundo artigo busca mostrar as diferenças práticas entre as chuteiras avaliadas, com as diferenças em torno de dois eixos de rotação das chuteiras, no retropé e no mediopé. Os resultados mostraram que um eixo de rotação mais anterior aumenta substancialmente o torque máximo e o trabalho, mas a rigidez é dependente da chuteira. Com relação as diferenças entre as chuteiras, foi observado que a chuteira com o formato circular e material rígido possui maior torque máximo tanto com eixo de rotação no retropé como no mediopé. Já a chuteira de trava mista (triangular e circular), além de maior altura de travas e material rígido, é a que apresenta maior rigidez rotacional e trabalho tanto com eixo de rotação no retropé como no mediopé. E as chuteiras que possuem material mais flexível, maior número de travas e menor altura, apresentaram de modo geral os menores valores para todas as variáveis analisadas. Com base nestes dois estudos, podemos afirmar que o equipamento proposto é capaz de medir a resistência oferecida por diferentes solados de chuteiras na interação com a superfície. Além de, ser capaz de detectar as diferenças entre as chuteiras, no qual mostrou ser dependente das diferentes características de material, formato, tamanho e número de travas, além do eixo de rotação no qual ocorre o movimento. Com base nos resultados que o equipamento proposto é capaz de fornecer, será possível em aplicações futuras tentar determinar um valor de referência de resistência para cada tipo de chuteira, podendo auxiliar tanto a indústria na confecção de novos calçados como guiar os usuários na escolha de uma chuteira mais adequada para sua prática esportiva.

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