Resumo

A investigação das noções de infância e sua educação no debate contemporâneo nos têm movido a buscar compreender como o tema se insere no que se convencionou chamar de crise da modernidade e crise da razão. Com esse intuito, tomamos como ponto de partida para a presente investigação dois movimentos pedagógicos contemporâneos: um pauta-se no cuidado/educação do sujeito criança, buscando compreender a infância por meio das vozes infantis em suas múltiplas linguagens (uma Pedagogia da Infância); outro que defende, contra esse modelo que é adjetivado antiescolar, a escolarização como condição para a humanização plena e como um direito inalienável das crianças pequenas, seres em formação. Como respostas alternativas a essa disputa, encontramos, recolocando o problema da infância e sua educação, as obras de Walter Benjamin e Hannah Arendt. Elas nos oferecem linhas de fuga, principalmente no que se refere à posição que a infância adquire nas concepções desses pensadores sobre a modernidade. Em Benjamin trata-se da construção do par conceitual infância-experiência como simultaneamente expressão da modernidade e de seu declínio, quando a infância se torna uma experiência entre a memória pessoal e a narrativa histórica materializada em seus objetos (brinquedos e livros); em Arendt o par conceitual central se refere à relação infância-política, da incompatibilidade objetiva e da complementaridade possível de ambas, abordadas na investigação do conceito de política em tensão com a educação, aspectos constituintes da condição humana. Em ambos, fundamenta-se a conservação de um diálogo crítico com a tradição, de maneira que a relação entre as gerações se constitua não como dominação, mas possibilidade do novo, chance que nos é conferida a cada nascimento. 

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