Territorialidades domésticas projetadas no cinema: retratos da sociedade brasileira no filme Que horas ela volta?
Parte de Lazer e territorialidades: tessituras sociais, culturais e políticas . páginas 201 - 218
Resumo
O presente texto propõe discutir a temática “lazer e territorialidade” por meio do cinema, sendo este concebido como uma forma de arte que, tecnicamente, caracteriza-se pela articulação de imagem em movimento e som1 . O cinema pode ser desfrutado tanto como um entretenimento destinado ao consumo massivo, ou como uma experiência de lazer2 , que detém potencial de instigar a nossa compreensão sobre diferentes culturas, sobre o lugar social que cada pessoa ocupa no mundo, bem como sobre a sociedade em que vivemos. Esta segunda perspectiva é a que guia as reflexões aqui propostas e que tratam de um filme que problematiza, sobretudo, as relações sociais constituídas em um território doméstico. Tais territorialidades são tecidas no contexto das transformações sociais que foram implantadas no Brasil na primeira década do século XXI. O filme analisado neste capítulo é Que horas ela volta? (Brasil, 2015, direção e roteiro de Anna Muylaert), um longa-metragem de ficção que recebeu vários prêmios e é protagonizado pela atriz Regina Casé, que interpreta “Val”, uma empregada doméstica que trabalha e vive há vários anos na casa de seus patrões, pertencentes à classe alta, em São Paulo. Tudo prossegue bem naquela mansão até a chegada de Jéssica (interpretada por Camila Márdila), filha de Val. A partir daí, vários conflitos emergem naquele território.