Resumo

Em razão de, em estudos que analisam a relação remodelação cardíaca e estenose aórtica supravalvar: ser importante a detecção precoce da disfunção ventricular; o método hemodinâmico ser ideal para detecção da disfunção, porém inadequado para estudos seqüenciais; a taquipnéia manifestar-se, geralmente, quando há deterioração cardíaca grave e não estar estabelecida a relação entre a capacidade funcional e a função ventricular, torna-se necessário identificar se o(s) primeiro(s) sinal(is) de intolerância ao esforço físico está(ão) relacionado(s) a disfunção ventricular. Assim, este trabalho tem como objetivos avaliar em diferentes períodos, 3, 6, 12 e 18 semanas, após indução de estenose aórtica supravalvar em ratos a: 1) função do ventrículo esquerdo em repouso e as alterações morfológicas cardíacas por meio do ecocardiograma; 2) tolerância ao esforço físico, em teste incremental em esteira; 3) relação entre a tolerância ao esforço físico e a função cardíaca determinada em repouso. Foram utilizados 37 ratos Wistar, jovens, machos divididos em dois grupos: controle operado (GC, n=13) e estenose aórtica supravalvar (GEAo, n=24). O GEAo foi submetido a cirurgia com implantação de um clipe na artéria aorta para a indução da estenose aórtica supravalvar. O GC foi submetido à mesma cirurgia, porém sem a implantação do clipe. Os animais foram mantidos com água e ração e ad libitum, em ambiente com temperatura controlada a 23°C e ciclo de luz invertido. Todos os procedimentos foram realizados no ciclo escuro, com o auxílio de iluminação fluorescente vermelha, cuja emissão de onda, por ser longa, não é percebida pelos animais. Dos 24 ratos do grupo estenose aórtica (GEAo), 10 morreram e dois apresentaram sinais de insuficiência cardíaca ao final do experimento, taquipnéia associada a derrame pleural, trombo em átrio esquerdo e hipertrofia de ventrículo direito, sendo excluídos do grupo. Dos 13 animais do grupo controle (GC) dois morreram antes do término do estudo. Assim, os grupos estudados foram constituídos de 11 animais no GC e 12 no GEAo. A tolerância ao esforço físico foi avaliada em teste incremental, intervalado, multiestágios, até a exaustão, realizado em uma esteira rolante para ratos. Os parâmetros utilizados para a determinação da tolerância ao esforço físico foram:   velocidade da esteira correspondente ao limiar de lactato (VLL), velocidade do estágio onde foi atingida a exaustão (VEx), tempo total do teste (TTT) e as concentrações de lactato correspondentes ao limiar de lactato ([LAC]LL) e ao final estágio da exaustão ([LAC]EX). O limiar de lactato foi estabelecido por inspeção visual do ponto da curva onde ocorreu quebra da linearidade em função do aumento da velocidade. A função e estrutura do coração foram avaliadas pelo ecocardiograma em repouso. No final do período, após sacrifício foram determinadas variáveis morfológicas corporais e cardíacas. A relação entre peso úmido (PU) e peso seco (PS), foi utilizada para a determinação do teor de água tecidual. Os parâmetros morfológicos e pesos úmido e seco foram analisados pelo teste t de Student ou pelo teste de Mann-Whitney. Para comparações dos grupos no processo evolutivo, utilizou-se o método de análise de variância de medidas repetidas em dois grupos independentes complementado pelo procedimento de comparação múltipla de Bonferroni. Em todos os testes fixou-se em 5% (p<0,05) o nível de significância. Os dados ecocardiográficos mostraram importantes alterações estruturais cardíacas durante o processo da evolução da remodelação. Vários parâmetros, indicadores de hipertrofia como, EDPP, EDSIV e ERelVE, apresentaram-se alterados a partir da 3ª semana e o ÍNDICE MASSA VE após a 6ª semana. A análise da variável ERelVE indicou que a estenose aórtica supravalvar acarretou hipertrofia concêntrica do VE, precocemente, mantida até o final do experimento. A hipertrofia ventricular esquerda foi confirmada pela avaliação estrutural cardíaca dos ratos após o sacrifício. A análise da função sistólica do ventrículo esquerdo mostrou melhoria dos encurtamentos endocárdico e mesocárdico (∆D endo e ∆D meso) em relação ao grupo controle, que deterioraramse durante o processo de remodelação. Apesar da piora da função sistólica ao longo do tempo, o GEAo ainda manteve resultados superiores ao GC. O índice cardíaco, parâmetro que avalia o coração como bomba, mostrou-se igual ao GC. Estes resultados mostram que o desempenho sistólico do ventrículo esquerdo do GEAo foi superior ou igual ao GC durante todo processo de remodelamento cardíaco. A função diastólica do GEAo mostrou-se deteriorada, precocemente, em relação ao GC, desde a 3ª semana pós-indução de estenose aórtica. Neste grupo ocorreu aumento da onda A, redução da relação E/A e do tempo de desaceleração da onda E (TDE). Não foram observadas diferenças significativas entre os grupos, em todo o período experimental, nos parâmetros da tolerância ao esforço. A ausência de   alterações na tolerância ao esforço físico nesse trabalho não foi devida à inabilidade do teste ou da falta de sensibilidade das variáveis analisadas. A fase de remodelação cardíaca e o grau de disfunção ventricular parecem ter sido os principais determinantes dos resultados observados. Em conclusão, os dados deste trabalho mostram que os animais com estenose aórtica supravalvar avaliados durante 18 semanas apresentam: 1) alterações morfológicas cardíacas indicativas de hipertrofia concêntrica; 2) disfunção diastólica precoce do ventrículo esquerdo; 3) melhoria ou preservação da função sistólica do ventrículo esquerdo em relação ao grupo controle; 4) deterioração do desempenho sistólico durante o processo de remodelação ventricular; 5) alterações da função ventricular, não acompanhadas da diminuição da tolerância ao esforço físico.  

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