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Polícia
28/12/09 09:08
Quase 65% dos PMs alagoanos são obesos ou estão acima do peso

Os policiais militares de Alagoas estão longe de alcançar a excelência física exigida pela profissão que além de porte atlético pede agilidade, bom condicionamento físico e condições favoráveis de saúde para um melhor desempenho das funções práticas. Pelo menos é o que indica uma pesquisa realizada pelo Departamento de Educação Física da Polícia Militar – sob a chefia do major PM Silvestre – e divulgada com exclusividade à reportagem do Alagoas em Tempo Real.

De acordo com o estudo, realizado no período de um ano, e que englobou um universo de 2.060 policiais divididos em 26 unidades, mais de 64% dos oficiais alagoanos apresentam sobrepeso ou são obesos. “Esse índice é triste, mas não surpreendente”, observa major Silvestre. O resultado foi obtido através do cálculo do Índice de Massa Corpórea (IMC) que indica de forma subjetiva se a pessoa está com o peso normal ou alterado.

Segundo o militar um dos fatores que pode ser apontado como desencadeante nesta situação é a falta de rigidez nos exercícios físicos diários: “Nós temos uma academia montada no Cefap [Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças], mas não existe uma ordem de atividades nem um horário rigoroso de exercícios”, informa. O major sublinha ainda que não é possível exigir de um policial que passa o dia em atividade o comparecimento na academia para exercícios físicos depois de uma rotina exaustiva de trabalho: “Há a incompatibilidade de funções e a escala de serviços é rígida. Nosso efetivo é pequeno e fica visível que é preciso haver mais policiais, afinal de contas, as cidades crescem, mas a Polícia não cresce”, salienta.

Os policiais militares também não têm uma avaliação anual ou periódica que permita ao Departamento traçar uma estratégia específica em relação à situação física deles: “Não há uma prova geral em que eles possam ser avaliados periodicamente. O que existe é o TAF [Teste de Aptidão Física], um conjunto de provas que os oficiais precisam se submeter quando são indicados para um curso ou antes de serem promovidos”. Apesar de o TAF seguir um protocolo rígido – o militar escolhe quatro estágios, numa lista de cinco opções, e precisa acumular 20 pontos para ser considerado apto – o major pondera que os exercícios são flexíveis e dificilmente algum oficial sairá considerado inapto. “Mesmo que isso aconteça, o policial não deixará de ser promovido, por exemplo, e sim perderá um ponto no critério de merecimento, o que, em uma situação peculiar, pode atrasar sua promoção”, explica.

Outra condição avaliada no estudo do Departamento foi a Circunferência Abdominal, relação entre os contornos da cintura e do quadril. Também neste teste os resultados foram nada animadores, já que mais da metade dos policiais se enquadra no grupo de risco “moderado” ou “aumentado”. Níveis acima do normal – no máximo 0,80 para mulheres e 0,95 para homens – indicam que a pessoa se encontra com gordura abdominal elevada e precisa perder peso, alerta a nutricionista Joselita Santos, especialista em Gerontologia, Obesidade e Emagrecimento: “Em níveis elevados esses índices podem desembocar em um quadro de rendimento baixo nas atividades físicas, cansaço, aumento da pressão arterial, taxas sanguíneas de colesterol, triglicérides elevados, sobrecargas nas articulações dos joelhos e tornozelos principalmente, entre outros prejuízos”.

Caso o policial esteja bem acima do peso, sofrer de hipertensão mal tratada, ou sem saber, há o risco de ele ter um mal súbito, como infarto do miocárdio fulminante ou acidente vascular cerebral (AVC), avalia a nutricionista. Ainda segundo ela, a alimentação não balanceada e o sedentarismo contribuem para o agravamento do quadro. “Para casos extremos como esses é fundamental o acompanhamento profissional. Infelizmente o ritmo de trabalho do policial, dentro ou fora do quartel, muitas vezes não vai permitir que pratique atividades físicas periodicamente, então, sugiro que por conta própria ele faça exercícios como caminhada ou academia. Mas é importante ressaltar que qualquer passo só deve ser dado depois que essa pessoa passar por uma avaliação médica”.

Sugestões e burocracia


O major Silvestre assume que o treinamento para a formação policial não está em um nível satisfatório por deficiências básicas, entre elas, a material e a pessoal. O departamento que comanda trabalha hoje com um efetivo de quatro homens, mas em uma situação ideal, precisaria de pelo menos dez pessoas, calcula o oficial que é graduado em Educação Física desde 1998 e está à frente do setor há um ano. Na academia, apesar dos bons equipamentos, faltam pessoas para treinamento e coordenação geral, assegura o militar.

“Uma das preocupações da PM é formar e capacitar os policiais em cursos voltados para o treinamento físico, por isso o Departamento já propôs ao Comando a implantação de cursos de capacitação dos oficiais para que eles tornem o treinamento físico uma prática mais constante”, relatou o major. O militar contabilizou que, entre 2003 e 2007, 150 policiais foram capacitados em cursos de métodos e treinamentos físicos, mas que a meta agora é implantar duas modalidades puramente práticas: natação intensiva e resistência física, para que os PM’s comecem a correr com uma solidez maior.

Embora perceba a inclinação positiva do Comando em relação aos projetos apresentados, major Silvestre diz que a grande dificuldade na corporação são os entraves burocráticos: “O Comando está dando uma atenção mínima para a execução do que estamos planejando, apoiando competições, mostrando empolgação; e temos um aparato profissional bom, com suporte de avaliação cardiorrespiratória, um centro de fisioterapia que é referência, centro psicológico etc. Mas há a morosidade, a demora do sistema burocrático para tudo”, critica.

Uma solução mais imediata para melhorar os indicadores dentro da corporação, porém, já vem sendo executada há algum tempo e tem se revertido em conquistas: “Ao longo do ano nós viemos incentivando a participação dos oficiais em competições comunitárias, como maratonas, desafios de natação, tanto individual como coletiva. E isso faz com que o policial se sinta estimulado a praticar esporte e que ele sirva de exemplo para as novas gerações”. O maior objetivo da pesquisa realizada pelo Departamento de Educação Física da PM, explica major Silvestre, foi conseguir subsídio para convencer o Comando de que é preciso que se faça algo para reverter esses índices: “Nossa grande preocupação é dotar os policiais de qualidade de vida com foco na saúde”, finaliza.

http://www.alemtemporeal.com.br/?pag=policia&cod=9116

Comentários

Por Carlos Wagner dos Santos Meirelles de Andrade
em 30 de Dezembro de 2009 às 10:51.

       Muito bom o estudo do Major Silveira, fico muito feliz que outras pessoas estejam assim como eu preocupados com a falta de preparo físico dos militares, o que acarreta problemas sérios na atividade fim. É necessário que os Comandos Gerais dediquem tempo, dinheiro e pessoal para resolver este problema tão grave.

        É importante lembrar que embora nos centros de formação exista um bom aparato para a prática esprtiva, na maioria das Organizações Militares (OM) não os tem. No CBMERJ apenas em duas OM existem academias e espaço físico para atividade física. Os demais tem que utilizar de atividades nas ruas o que é extremamente perigoso pela proximidade com comunidades.


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