Cevnautas da Ética,

   Pesquei esse no Congresso da Sociedade Portuguesa de Sociologia 2012  http://www.aps.pt/vii_congresso

    PAP1278 - Abordagem Sociológica da Ética do Desporto no Contexto da Mudança Social: O caso português durante o Estado Democrático do século XX.
    Comunicação - MARIVOET, Salomé

    Na compreensão da ética do desporto, enquanto fenómeno sociológico, pretendemos demonstrar como as mudanças no nomos do campo das práticas desportivas de competição (na acepção de Bourdieu) provocaram um conjunto de efeitos em cadeia, ainda que porventura não esperados, na fragilização dos princípios éticos do desporto moderno, impondo contradições na determinação que exercem nas práticas. Para a abordagem teórica da ética recorremos às contribuições de Durkheim, Weber e Elias. Elegemos como universo de análise a realidade portuguesa durante o Estado Democrático do século XX, enquanto estudo de caso. Seleccionámos informação proveniente de diferentes fontes (estatísticas oficiais, notícias dos media, observação part icipante e entrevistas), mobilizando métodos de análise qualitativos e quantitativos. Nas mudanças produzidas no último quartel do século XX, identificámos a indissociável e interdependente relação das dimensões desportiva, económica e simbólica na determinação da orientação da acção para a vitória (tout court), com a consequente radicalização dos interesses concorrentes e a intensificação da competição. Decorrentemente, assistiu-se a mudanças no ethos da interacção desportiva, que fragilizaram o princípio do fair play, assistindo-se ao aumento das práticas que o quebram. Este facto colocou dificuldades acrescidas às arbitragens, tendo-se assistido ao aumento das desconfianças no sentido de justiça implícito à preservaçã o da igualdade na competição, realidade que se encontrou agravada com os indícios e casos de corrupção e de dopagem. Neste contexto, assistiu-se ao maior envolvimento dos actores e das organizações na regulação ética, tornando-a mais flexível e sujeita à negociação, quer através dos meios institucionais quer de estratégias de pressão e persuasão no espaço público mediático, saindo reforçadas as solidariedades contingentes, em detrimento das solidariedades orgânicas. As desconfianças e as dinâmicas de vigilância e de fiscalização, encetadas nos anos noventa, terão ainda contribuído para accionar solidariedades mecânicas no seio de grupos de interesse, num contexto de oposição e confrontação ou de radicalização propício a manifestações de revolta violenta colectiva, e ainda à instalação de formas de violência premeditada entre alguns grupos de adeptos ultras. Factos, que foram dando maior visibilidade ao enfraquecimento da regularização ética, em especial no campo do futebol profissional de maior nível competitivo. Face à especificidade da conflitualidade ética na figuração desportiva, foi-se assistindo no quadro europeu e nacional à intervenção dos Estados, nomeadamente à cristalização dos princípios éticos em dispositivos legais definidores de quadros sancionatórios, com a consequente fragilização do princípio da autonomia das organizações desportivas, decorrente da liberdade do associativismo.

 

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