Gustavo Pires http://www.abola.pt/nnh/ver.aspx?id=662463     Na linha de pensamento de Manuel Sérgio, defendemos que a motricidade humana, nas suas especialidades, ao integrar o desporto, tal como, entre outras, a dança, a reabilitação, as atividades físicas e recreativas, a ergonomia, a disciplina curricular de educação física que se devia designar de motricidade humana bem como os trabalhos oficinais e os trabalhos circenses, fundamenta uma visão filosófica do Movimento Olímpico uma vez que este se trata de “um processo, adaptativo, evolutivo e criativo” em que o atleta é um “ser práxico”, carente dos outros e do mundo em busca da sua própria superação e transcendência.

É neste sentido que entendemos a expressão “citus, fortius, altius”, idealizada com esta ordem das palavras pelo frade Henri Didon que, pela primeira vez, surgiu associada ao MO no frontispício do nº1 do “Bulletin International des Jeux Olympiques” publicado em 1894 que é uma espécie de relatório daquilo que se passou no 1º Congresso Olímpico realizado, naquele ano na Sorbonne em Paris, por iniciativa de Pierre de Coubertin. A primeira vez que Coubertin utilizou a máxima olímpica aconteceu na edição de 25 de Outubro de 1894 do jornal “Les Sports Athlétiques” através de um artigo intitulado “Le Bilan du Congrès de Caen” onde se manifestou contra os ataques dos prosélitos da educação física, sobretudo dos médicos, que acusavam a prática desportiva de causar desvios e deformidades. Coubertin arguia que os jovens desportistas recebiam como palavras de ordem o famoso “citius, fortius, altius” pelo que, para além das deformidades inventadas pelos médicos, o que os desportivos ambicionavam era serem mais rápidos, mais fortes e mais ágeis. Posteriormente, Coubertin ainda utilizou o lema olímpico com o “altius” em último lugar na revista “Cosmopolis” de Abril de 1896 tendo, inclusivamente, feito uma alusão ao próprio frade Didon. Disse ele: “Todo o atletismo está contido nessas três palavras que o frade Didon ofereceu como lema do desporto aos estudantes da sua escola no final de um jogo de futebol: Citius, fortius, altius, mais rápido, mais forte, mais alto. Elas formam um programa de beleza moral. A estética do desporto é uma estética imaterial”.

Depois da morte do frade Didon, que aconteceu a 13 de Março de 1900, num texto publicado em 1901 onde abordava a problemática da educação pública, Coubertin voltou a referir-se o lema olímpico. Contudo, já não o fez utilizando a mesma ordem das palavras. Utilizou a ordem das palavras que hoje é conhecida: “Citius, Altius, Fortius”. Referiu-se ainda ao lema olímpico com a mesma ordem das palavras, em 1912, a propósito dos Jogos Olímpicos de Estocolmo (1912) num texto intitulado “Une Olympiade à Vol d`Oiseau”.

Entretanto, a Europa estava em vésperas de viver a catástrofe da 1ª Guerra Mundial. Pelo que o lema olímpico teve poucas possibilidades de se afirmar enquanto rutura do desporto relativamente às escolas de ginástica integradas na educação física. Por isso, a divisa olímpica só começou a ser formalmente utilizada a partir de 1921 quando passou a constar na capa da Carta Olímpica com as palavras ordenadas da maneira que hoje é conhecida: “citius, altius, fortius”.

Do exposto, resulta uma questão fundamental: Porque é que a palavra “altius” deixou de estar colocada em último lugar? A palavra-chave que nos pode ajudar a resolver este imbróglio é a palavra transcendência, caída em desuso no Movimento Olímpico sobretudo a partir dos anos sessenta com a entrada da televisão nos Jogos Olímpicos e o consequente processo esquizofrénico de comercialização dos Jogos Olímpicos como Guilherme de Oliveira Martins referiu no recente Colóquio sobre Manuel Sérgio que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian.

O conceito de transcendência foi introduzido no desporto moderno através do designado Cristianismo Muscular enquanto corrente filosófica e religiosa que surgiu em Inglaterra nos anos cinquenta do século XIX a fim de envolver o desporto numa dimensão religiosa e ultrapassar as dificuldades levantadas pelas igrejas cristãs relativamente à prática desportiva ao Domingo desenvolvida, desde o início do século, nas Escolas Públicas em Inglaterra cujo principal percursor foi Thomas Arnold (1795-1842) quando, de 1828 a 1841, exerceu as funções de diretor da Escola Pública de Rugby.

A pergunta que desencadeou o Cristianismo Muscular foi a seguinte: Porque é que não se pode praticar desporto ao domingo? Tudo começou com uma polémica. Num primeiro momento foi desencadeada pela publicação de um livro da autoria do clérigo Charles Kingsley intitulado

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