Resumo
A participação de crianças e jovens no esporte é um fenômeno das últimas décadas. Essa, participação varia desde os programas de alto nível, com foco para o rendimento, aos de massificação voltados para resultados no plano social, da saúde e do entretenimento. Muitos se envolvem no esporte motivados pelo próprio interesse de treinar e competir ou talvez encorajados pelos amigos e pela família. Entretanto, discussões aumentam nas áreas da Pedagogia do Esporte, Psicologia e Medicina acerca da influência da pressão dos técnicos e pais na natureza da participação de crianças e jovens. Uma ideia que permeia a literatura é que crianças e jovens são submetidas a uma carga excessiva e muito cedo. O consenso entre os profissionais da área é que as crianças deveriam ter a oportunidade de experimentar diferentes esportes, que a carga de treino deveria ser apropriada para a idade e que deveria ser adotada uma perspectiva de desenvolvimento a longo prazo. Quando negligenciamos esses critérios, há uma possibilidade de expor as crianças a maiores riscos físicos e psicológicos. E uma consequência poderia ser a perda de interesse pelo esporte ou qualquer atividade física. A Ginástica Artística é um esporte que exige um alto volume de treino nas fases iniciais para colher o sucesso no futuro. As sessões de treino podem ser longas e, muitas vezes, os ginastas passam mais tempo com os técnicos que com a própria família ou na escola. Esse ingresso precoce e o alto volume de treino colocam o papel do técnico como foco de crítica. E o técnico é essencial para que o atleta obtenha resultados positivos no esporte. Entrevistamos 46 técnicos de Ginástica Artística que orientam ginastas potenciais para o alto nível a fim de compreender e analisar o papel crucial do técnico no processo de formação esportiva. Embora o grupo de técnicos tenha revelado uma diversidade de circunstâncias e contextos, o estudo identificou pontos em comum como: falta de uma filosofia clara dos técnicos; tendência a reproduzir métodos de outros; a imposição de regime de treinamento e de competição de adultos aos ginastas jovens; abandono precoce da carreira esportiva; falta de incentivos aos pais para apoiar os filhos. O panorama atual aponta para a necessidade de ajustarmos nosso olhar sobre as crianças envolvidas na Ginástica Artística competitiva. Há necessidade de se rever, com mais critério, a idade de ingresso no sistema competitivo, as cargas de treino e a natureza das habilidades executadas. A CBG, as federações e outros envolvidos na regulamentação do esporte podem influenciar as regras e as normas das competições, assim como estas influenciam no treinamento da modalidade nas instituições e, consequentemente, o impacto do esporte nas crianças jovens