Integra
Ave Caesar, morituri te salutant! Assim exclamavam no circo romano os gladiadores cientes de que iam morrer. Agora vigora um ritual idêntico perante o imperador da nova Roma, dono do universo todo e mandador sem lei.
Dizem os media que não há alternativa ao ajoelhar e obedecer. O Xerife manda bater o martelo e os escravos remam todos em sintonia e ao mesmo ritmo. Tem a servi-lo a corte de procuradores e procônsules, de capachos e lambe-botas e cus, de corvos famintos da desesperança e desgraça. E conta com a cumplicidade e até o aplauso dos vira-latas e do séquito vil de humanoides. A Terra oculta a face, envergonhada por ter gerado criaturas tão desprezíveis, sejam mandantes ou paus-mandados. Como diz Lídia Jorge, temos que calçar galochas para andar no meio da lama; e não ficamos incólumes, tamanhas são as ondas do tsunami da trampa. O lixo acumulado ao longo de séculos veio de volta para a orla dos oceanos e as praças da cidade.
Enquanto pratica golpe, surdo aos gritos da realidade e longe dos que morrem sob a bomba da fome, o aventesma calcula e dita taxas, com as fauces esfaimadas e os dentes aguçados. Os fantoches recebem-nas em atitude de beija-mão e repetem, num sussurro humilhante, a saudação dos gladiadores de outrora; cobertos de opróbrio regressam a casa vergados pela ignomínia que não intentam contestar. O decreto da Pax Romana é perentório e não tolera nenhum descumprimento: “Reafirma-se, para vigorar em toda a parte, a carcomida Ordem Mundial. A esquadra de cruzadores e submarinos, carregados dos mísseis nucleares da potestade incontestada, da chantagem desabrida, da vingança descabida e da agressão multiplicada, circulará por todos os mares, cobrará impostos, fixará sanções agravadas e destruirá qualquer nação que ouse manifestar a veleidade da coragem e desobediência.”
Era inimaginável que atos tão abomináveis e abjetos fossem praticados no século XXI e por gente putativamente cristã e portadora de um destino messiânico! Resta esperar e confiar no ensinamento da história: nas situações mais angustiantes o que parece sólido, inclusive a malvadez, desmancha-se no ar. Os que agora se põem de cócoras, transidos de medo, não tardarão a descobrir que a posição de agachamento os sujeitou a aviltante violação. Já vem a caminho uma era do processo civilizatório que há de abater os tiranos, derrubar os muros da opressão e edificar, em plano elevado, o relacionamento entre os povos e as instituições.
Esta hora é de cerrar fileiras e resistir, com convicção e valentia, a Sauron e à horda de ogres que acometem a Humanidade. Os dias da História são longos e o seu julgamento implacável. Os jagunços, indiferentes e omissos, os que recitam o édito imperial, seguem o roteiro das ameaças e perseguições, se acomodam à infâmia e acobardam à besta fascista, tornar-se-ão cadáveres putrefactos.
07.08.2025
Jorge Bento