Resumo

A crescente complexidade do esporte, e consequentemente da sua gestão, suscitou a necessidade de uma perspectiva crítica sobre os métodos de investigação utilizados nos estudos na área (Skinner et al., 2021). Embora tenha havido um progresso notável nas pesquisas ao longo das últimas décadas, particularmente na utilização de teorias de diferentes áreas do conhecimento, a diversidade e o surgimento relativamente recente desta área de estudo indicam que a investigação em gestão do esporte ainda está numa fase de descoberta (Hammerschmidt et al., 2023). Embora historicamente a formação de pesquisadores em gestão esportiva tenha sido focada na compreensão de métodos quantitativos, atualmente há uma ênfase crescente, bem como uma necessidade, no desenvolvimento de pesquisas qualitativas, especialmente com métodos contemporâneos e inovadores, a fim de ampliar a compreensão de diferentes realidades de investigação em gestão do esporte (Hoeber & Shaw, 2017; Shaw & Hoeber, 2016). Diante desse cenário, há a necessidade de analisar a realidade da pesquisa qualitativa no Brasil e, assim, indicar caminhos para o desenvolvimento de novos estudos e para aprimorar a gestão do esporte como campo acadêmico. Objetivo: O presente estudo teve como objetivo mapear sistematicamente a produção científica sobre pesquisas qualitativas na área da gestão do esporte no Brasil. Metodologia: Utilizando a estrutura proposta por Arksey e O'Malley (2005), foi realizada uma revisão de escopo com a busca de artigos publicados de 2000 a 2022, nas principais revistas internacionais na área da gestão do esporte bem como nas nacionais com foco na gestão do esporte, mas também na Educação Física. Foram identificados 115 estudos qualitativos. Principais resultados: A partir da análise de frequência, no que se refere ao número de estudos publicados por ano, vemos que o primeiro artigo que apresenta de maneira clara a realização de uma pesquisa qualitativa foi no ano de 2006, de maneira que de 2007 a 2009 não foram observados estudos com essa abordagem. O ano de 2016 foi o que apresentou o maior número de artigos, com 19 investigações. Dentre as revistas selecionadas para a busca dos artigos, a PODIUM e a RGNE foram as duas com um maior número de estudos. Com início das atividades em 2012 e 2016, respectivamente, essas duas revistas são as que possuem um maior direcionamento para as publicações na área da Gestão do Esporte no Brasil, o que pode justificar essa alta frequência de estudos. Quando passamos a analisar a temática dos estudos encontrados, observamos um maior número na área de Estratégia, Governança e Responsabilidade Social Corporativa (n = 30), seguida pelo Marketing e Patrocínio esportivos (n =19) e Políticas Públicas (n = 19). Sobre as organizações e as modalidades esportivas que serviram de contexto para as investigações, destacam-se os clubes (n = 32) e o futebol (n = 30), respectivamente. Em relação à abordagem, coleta e análise de dados dos artigos selecionados, há pouca variedade nos estudos qualitativos em relação ao método de investigação, de maneira que o estudo de caso, as entrevistas semiestruturadas e a análise de dados por meio de alguma técnica de codificação tem sido o caminho mais utilizado nas pesquisas dessa natureza em gestão do esporte. Essa perspectiva também já foi apontada em estudos anteriores no contexto geral da gestão do esporte (Shaw & Hoeber, 2016), como também no contexto brasileiro (Moraes et al., 2019). Considerações finais: O avanço da pesquisa qualitativa no campo da gestão do esporte é um tema frequentemente debatido no contexto internacional, mas precisa ser mais explorado na realidade brasileira, principalmente para que se consolide como campo acadêmico. Os resultados deste mapeamento não diferem significativamente das discussões internacionais, que apontam para o uso excessivo de estudos de caso e para a necessidade de uma coerência metodológica mais profunda e do uso de tipos mais contemporâneos de pesquisa qualitativa.