Resumo

Introdução: As epistemologias da prática profissional compõem parte relevante das investigações científicas voltadas ao desenvolvimento de treinadores e treinadoras de futebol, ao levar em conta a interação entre teorias e práticas aplicadas e o alinhamento, nem sempre linear, entre métodos e didáticas (SILVA; THIENGO; SCAGLIA, 2022). Objetivo: Desvelar a manifestação das epistemologias da prática de cunho racionalista de treinadores e treinadoras de futebol, a partir de seus relatos na plataforma ‘The Coaches Voice’ quanto ao cotidiano profissional, no alto rendimento esportivo. Metodologia: Foi realizada uma análise de produto midiático, sob abordagem qualitativa descritivo-exploratória (PIRES; LAZZAROTTI FILHO; LISBOA, 2012). Resultados: O pensamento racionalista constitui, como alude Capra (2012) o cerne do paradigma científico tradicional: sua manifestação, a partir de duas fortes correntes - uma, apriorista, que põe em voga razão e sensibilidade; outra, que avaliza a noção de experiência como acúmulo de vivências para justificar o empirismo – é clarividente no discurso de treinadores e treinadoras, sobretudo aos e às com trajetória profissional prévia no alto rendimento, para justificar os saberes tático-técnicos declarativos de jogadores e jogadoras da modalidade. Foi identificada, porém, uma espécie de ‘contradição’ paradigmática, uma vez que treinadores e treinadoras concebem processos didático-metodológicos, de cunho epistemológico interacionista, bem como o caráter sistêmico do jogo e a humanização nas relações cotidianas, como fundamentais para suportar as exigências vorazes do contexto esportivo de alto rendimento. Conclusão: A contradição paradigmática de treinadores e treinadoras de futebol justifica-se, na prática, pela assimilação conceitual e epistemológica paulatina, na medida em que tomam consciência da origem de seus saberes e intencionalidades pedagógicas e admitem suas ressignificações, enquanto indivíduos inacabados e inacabadas (FREIRE, 2020; SILVA; LEONARDO; SCAGLIA, 2021). Tal noção, contudo, não parece evocada aos e às atletas, enfatizando impactos da herança racionalista sobre moral e a (falta de) autonomia ao ato de jogar.

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